segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Distribuidoras investem em tecnologia e sustentabilidade para combater fraudes

Companhias trabalham para reduzir irregularidades e perdas na rede elétrica
 Por Gabriela Araújo


No Brasil, o trabalho das equipes de inspeção e manutenção para prevenir irregularidades e perdas nas redes elétricas parece não ser suficiente para diminuir tal prática, principalmente quando o assunto são as perdas não-técnicas, os chamados "gatos". Somente em 2009, o País registrou um prejuízo de R$7,8 bilhões ao ano, acumulando 23.399 GWh de perdas não-técnicas de acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A saída? Algumas empresas brasileiras apostam em novas tecnologias para identificar as fraudes. Porém, não há uma receita definitiva e a solução depende do perfil social da região em que atuam.
Para a CPFL Energia, o uso de mais de 150 equipes treinadas de fiscalização, programas de eficiência energética e tecnologias de inspeção já trouxeram benefícios para a companhia, que registra hoje 15% de perdas entre seus 6 milhões de clientes do interior paulista.
A companhia utiliza desde 2006, entre suas ferramentas tecnológicas, o software Modeler. O sistema numera a base de dados cadastrais e identifica comportamentos de consumo, classe, atividade e a média histórica de cada cliente. A partir das informações geradas a cada número de clientes selecionados, a equipe vai a campo e traz novas informações para a atualização do banco de dados.
De acordo com o gerente de recuperação de energia, Ronaldo Borges Franco, o índice de perdas da empresa já caiu 2% nos últimos seis anos e o controle das fraudes está três vezes mais eficiente. Mas, além da tecnologia, o uso de equipamentos, por mais modernos que sejam, precisa estar aliado a um bom trabalho dos técnicos de inspeção. “A valorização da equipe, o preparo e o diagnóstico em campo são fundamentais. A equipe tem que estar atualizada, atuando com segurança e preparada para dar as devidas orientações. Então é uma cadeia muito interessante, muito complexa. A informação que retorna, depois da visita ao local, tem que vir com qualidade”, reforça o executivo.
A CPFL atua também com programas de substituição de lâmpadas e aparelhos elétricos de alto consumo por equipamentos mais eficientes, o que totaliza um custo de R$20 milhões em despesas com manutenções e controle dos pontos. Já para a compra de novos equipamentos, troca de medidores, testes, transporte e tecnologia, são investidos anualmente cerca de R$10 milhões.
No caso da Celpa, companhia do Grupo Rede com maior número de perdas e atuante no Estado do Pará, o índice atual é de 31%. Para combater o alto número, a companhia trabalha com um conjunto de ações, focando principalmente em trabalhos sociais, forte fiscalização, comunicação com a sociedade e investimento em novas tecnologias.
Segundo a empresa, são feitas inspeções e combate a consumidores reincidentes. Além disso, a distribuidora realiza a aplicação de redes de distribuição mais robustas com o objetivo de dificultar o desvio de energia. O uso de ferramentas tecnológicas como o Sistema de Medição Centralizada (SMC) e a medição telecomandada em instrumentos de alta tensão dos grandes clientes também são outras saídas encontradas pela companhia.
A Celpa trabalha também com regularização de áreas de invasão, evitando o contágio de roubos nas demais regiões e com projetos de performance com parceiros, auxiliando na inspeção e cobrança da quantidade fraudada. Com tantas medidas em andamento, a empresa já registrou queda de 1,3% nas perdas em relação a março deste ano. A meta para 2013 é de 23,07%, número abaixo da meta prevista pela Aneel. “Para isso nós criamos um programa de investimento grande, prevemos investir R$248 milhões entre 2010 e 2013, basicamente investindo em tecnologia, regularização de invasão e medição eletrônica”, ressalta o diretor da Celpa, Otávio Rennó.
A companhia concentra o maior número de perdas devido à grande complexidade social presente no Pará, resultado de um crescimento urbano desordenado, da violência e de condições socioeconômicas desfavoráveis, o que facilita a propagação das irregularidades e dificulta a atuação das equipes de inspeção e manutenção principalmente na região de Belém, capital do Estado.
O uso da medição centralizada trouxe maior confiança para a empresa. Hoje, são 60 mil medidores instalados que enviam por radiofrequência dados captados na leitura dos postes até o sistema comercial. São medições instaladas apenas nos postes e que dificultam o acesso da população até eles. “Apesar de ter um custo significativo, o retorno é satisfatório. Temos instalado desde o ano passado e até o final do ano vamos chegar a 100 mil medidores”, analisa Rennó.