quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

11% da energia será gerada por vento daqui a 10 anos, prevê EPE

Em agosto, fonte atingiu o suficiente para abastecer 4 milhões de lares.

Atualmente, ela corresponde a 2% da energia produzida no Brasil.

Cristiane CardosoDo G1, no Rio

Energia Eólica RS (Foto: Claudio Fachel/Palácio Piratini )
Energia eólica deverá ser a segunda que mais 
crescerá no país, diz Tomalsquim, da EPE
(Foto: Claudio Fachel/Palácio Piratini )

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao governo federal, estima que, em 10 anos, a energia gerada pelo vento responderá por 11% de toda a eletricidade fornecida no Brasil. Atualmente, ela corresponde a 2% do total. 

Em 8 anos, a meta é que essa porcentagem aumente para 9,22%.

"Todas as nossas perspectivas que ela [a indústria eólica] salte dos atuais 2% para algo como 11 ou 12% de participação de energia em dez anos. 

É a fonte, depois da hídrica, que mais vai crescer nos próximos 10 anos. Realmente a eólica está numa fase muito boa”, afirmou o presidente da EPE, Maurício Tomalsquim.

A energia eólica atingiu, neste mês, a capacidade instalada de 5 gigawatts, o suficiente para abastecer cerca de 4 milhões de lares brasileiros ou 12 milhões de pessoas, o que corresponde a uma cidade do tamanho de São Paulo, segundo dados divulgados durante a 5ª edição do Brazil Windpower, nesta terça-feira (26).

“A segunda fonte que mais deve crescer nesses dez anos é a eólica, com total de 20 gigawatts, que é algo bastante expressivo, se considerar o que já entrou e o que vai entrar. 

A primeira (entre as que mais crescerão) é a hidroeletricidade, que ainda tem papel importante e deve ter 70 GW de capacidade a mais”, completou Tolmasquim, afirmando ainda que “a eólica tem gerado mais energia do que as plantas nucleares”.

Preocupações
Para Hermes Chipp, diretor-geral do Operador Nacional de Sistema Elétrico (ONS), no entanto, o possível aumento da parcela da energia eólica também é preocupante.

“Do ponto de vista energético, a gente tem ventos favoráveis. Até nesse aspecto o Brasil é privilegiado. Mas tem um período em que venta mais, que é à noite. 

E o Brasil, o seu perfil de carga está em mudança significativa. Antigamente a ponta do sistema, o pico de consumo era 18h30 a 19h30 e hoje, no verão, está dando em 15h30”, explicou.

“Essa energia se conecta de uma forma geral, mas em pequenos sítios, onde você tem um sistema mais frágil do que o de alta tensão. 

Vai ter que enfrentar eventos elétricos (mudanças climáticas muito severas que possam interferir no fornecimento de energia). Já estamos enfrentando”, completou Chipp.

Limites da eólica
Apesar da expectativa, Tolmasquim admitiu que ainda não tem a resposta para o limite brasileiro para a energia eólica. Ele acrescentou ainda que “não vai reinventar a roda”.

“Não é claro qual é o limite técnico intermitente. Como o Hermes falou, tem questões elétricas e termos energéticos, como ele chama. 

É uma questão ainda tem que ser resolvida. Por enquanto estou tranquilo, mas a gente tem que ter essa resposta rapidamente”, ressaltou.

Ano ruim para a hidrologia
Representando o Ministro Edison Lobão, Tolmasquim afirmou ainda que o Brasil não teve nunca em sua história um início de ano tão ruim, no que concerne hidrologia – que é a ciência que estuda a ocorrência, distribuição e movimentação da água.

“A gente costuma comparar a situação com o ano de 2001, que foi o ano do racionamento”, no entanto, ele ressaltou que apesar disso, o nível dos reservatórios hoje estão 8 pontos percentuais acima do nível de 2001. 

"E isso sem racionamento, porque em 2001, estava tendo racionamento".

Segundo Tolmasquim, a “diferença estrutural que a gente tem hoje em comparação com 2001” é um dos fatores. A taxa de crescimento de capacidade instalada de usinas é outro motivo. 

De acordo com ele, entre 1995 e 2001, a taxa de crescimento e consumo de energia elétrica cresceu 7% acima da taxa de capacidade instalada de usinas.

“Entre 2001 e 2013, a taxa de crescimento de capacidade instalada cresceu 43%. 

A demanda de energia cresceu 5% ao ano e as térmicas cresceram 13% ao ano”, explicou, completando que o intercâmbio entre as regiões é o terceiro fator importante.


Diversificar as formas de produzir energia é prioridade para os próximos anos

A definição sobre quais serão as fontes de energia prioritárias para o país nos próximos anos será um dos principais desafios do próximo governante. 

Atualmente, cerca de 75% da energia elétrica gerada no Brasil vem de hidrelétricas, mas a capacidade de expansão dessa fonte já está caminhando para o esgotamento, e é preciso encontrar novas alternativas baratas, seguras e sustentáveis.





Os próximos anos serão decisivos para que o Brasil tome decisões estratégicas com relação a sua matriz energética, na avaliação do especialista Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

Segundo ele, o Brasil não tem mais potencial para expandir a geração por meio de hidrelétricas, e a construção de novas usinas está mais difícil. “A partir da segunda metade desta década, é preciso tomar decisões estratégicas com relação a essa matriz. 

A hidrelétrica vai diminuir, vai esgotar, é preciso saber qual a matriz que o Brasil terá”, aponta. Atualmente, o governo prevê o esgotamento do potencial hidrelétrico entre 2025 e 2030.

Para o especialista, a geração de energia no país não pode ser baseada apenas em energias renováveis como a eólica e a solar, porque essas fontes não têm capacidade de armazenamento. Na avaliação de Castro, um dos caminhos é trazer de volta a discussão sobre a geração de energia por meio de usinas nucleares.

O Instituto Acende Brasil, um centro de estudos do setor elétrico, também aponta que é preciso se preparar com antecedência para o cenário de esgotamento do potencial hidrelétrico. 

Em um documento com propostas encaminhadas aos candidatos à Presidência da República, a entidade diz que será necessário recorrer a outras fontes, como a energia nuclear, para atender ao crescimento da carga.

“O Brasil dispõe de amplas reservas de urânio e detém a tecnologia de seu enriquecimento. Adicionalmente, a energia nuclear não emite gases de efeito estufa e suas usinas podem ser localizadas relativamente próximas aos grandes centros de consumo”, diz o instituto, que também defende a geração distribuída, principalmente de fonte solar e eólica.

A energia nuclear respondeu, em 2013, por cerca de 2,78% da geração do Sistema Interligado Nacional e corresponde a um terço do consumo cativo total de energia elétrica do estado do Rio de Janeiro. 

Atualmente, o país tem em funcionamento as usinas nucleares Angra 1 e Angra 2. A Usina Angra 3 está prevista para entrar em funcionamento em 2018.

Entidades como o Greenpeace são contra a expansão da geração nuclear no Brasil. 

“Não temos a solução definitiva para a questão dos rejeitos nucleares. Além disso, a geração nuclear é extremamente cara, e uma usina leva cerca de dez anos para ficar pronta”, diz o coordenador da campanha de energias renováveis do Greenpeace Brasil, Ricardo Baitelo. 

A solução, segundo ele, é aumentar a participação de energia solar, eólica e a gerada por biomassa.

O Greenpeace acredita que até 2050 a participação de energia eólica e solar, no país, chegue a 20% para cada tipo de fonte. Atualmente, a participação da energia eólica é de cerca de 2%, e a solar é quase inexistente. 

Para os próximos quatro anos, a recomendação da organização não governamental é que sejam contratados pelo menos 30 gigawatts de energia oriundas de fontes solar, eólica e biomassa.

Outro desafio para os próximos anos é estimular a geração de energia de pequeno porte e a descentralização da geração. Países como Estados Unidos, Japão, China, Itália e Alemanha estão expandindo muito rapidamente a geração de energia solar residencial, que além de trazer vantagens ambientais reduz as perdas de energia. 

No Brasil, já existe há mais de um ano uma regulamentação sobre esse tipo de geração, mas, segundo Baitelo, ainda faltam linhas de financiamento para que as pessoas possam comprar os equipamentos necessários. 

“O governo ainda pensa o planejamento energético em larga escala, mas certamente a energia solar tem muito a contribuir nessa vertente pulverizada”, diz o representante do Greenpeace.

A prioridade para energia solar de forma descentralizada, usando telhados de prédios e casas, também é defendida pelo Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social. 

Para Ivo Poletto, assessor do Fórum, essa medida reduziria a necessidade de novas obras de usinas hidrelétricas para suprir a necessidade energética do país. “Temos um posicionamento crítico em relação às fontes que são prioritárias na política energética no Brasil. 

Além de afetar o meio ambiente, prejudicar comunidades, atingir os rios, achamos que não são necessárias porque mudando de prioridade de fonte temos energia à vontade a ser produzida a partir do sol, ventos e biomassa, de forma descentralizada”, aponta.

Com relação às críticas sobre os custos desse tipo de energia, ele argumenta que o preço atual da energia proveniente de hidrelétricas, por causa da falta de chuvas, está mais alto do que a energia solar comercializada em leilão e que o preço dos componentes para energia solar vem caindo cerca de 20% por ano. 

“Não apostar agora, aqui no nosso país, no uso do sol e continuar estragando a Amazônia, fazendo termelétricas, usinas nucleares, parece uma decisão de cegos, de surdos, de pessoas isoladas no planeta”, diz Poletto.

O presidente do Acende Brasil, Cláudio Sales, aponta outras questões importantes para a melhoria do cenário energético do país, como o planejamento dos leilões de energia e a valorização de atributos de localização e complementariedade de fontes. 

“Esses atributos têm valor e as regras dos leilões deveriam ter critérios para valorizar esses atributos, e não simplesmente a garantia física pela menor tarifa.”

Outra questão a ser enfrentada é a tributação sobre o serviço. Segundo o Acende Brasil, o setor elétrico é responsável por 2,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, mas contribui com 8,4% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). 

“Teria que ser pelo menos igual. Mas para isso acontecer, teria que mudar as regras de cobrança do ICMS, o que envolve debate com os estados e o Congresso Nacional. Está mais do que na hora de mudar isso para evitar esse modelo tão ineficiente de tributação que temos”, aponta Sales.

Fonte: Agência Brasil

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Um apelo global por novas energias

Wilson Marini Da APJ




Ao optar por economia de baixo carbono, o mundo pode evitar custos financeiros e ambientais nos próximos 15 anos, segundo afirmação feita por grupo de especialistas antes da cúpula das Nações Unidas sobre o clima. 

Eles pediram maior ação global para a adoção de energias renováveis, o fim do desmatamento e a integração da investigação sobre as tecnologias adequadas como parte do combate às alterações climáticas. 

Segundo o relatório, os próximos 15 anos serão decisivos diante de economia mundial em plena reestruturação e face à dificuldade de respeitar o objetivo de limitar o aquecimento global a 2ºC. 

O estudo cita investimento mundial de US$ 90 bilhões em infraestrutura nesse período, em que é esperado rápido aumento da urbanização. 

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, convocou reunião de cúpula sobre o clima para o dia 23 de setembro, nas Nações Unidas, na esperança de preparar a próxima grande conferência mundial de Paris em 2015. 

O relatório apela igualmente à supressão progressiva das energias fósseis, assim como ao reflorestamento de 500 milhões de hectares de florestas e de terras cultiváveis até 2030.

Em São Paulo
Na matriz energética do Estado de São Paulo, a cana-de-açúcar responde por 29% da oferta total de energia produzida no Estado e a hidráulica por 8%. 

Petróleo e derivados, gás natural, carvão, lenha e outras fontes participam, respectivamente, com 60%, 6%, 2,6%, 1% e 2%, conforme dados mais recentes disponibilizados pela Secretaria Estadual de Energia e que se referem a 2011. 

O Estado é responsável por 18% da capacidade instalada de geração de energia hidráulica e por 52% da produção de álcool nacional. 

Isso faz de São Paulo uma ‘reconhecida liderança em geração de energia limpa’, propaga para investidores internacionais a agência oficial Investe SP.

Bacia de Santos
Além de conjunto de usinas hidrelétricas, da capacidade de produção de etanol de cana-de-açúcar e da rede de distribuição de gás canalizado trazido pelo gasoduto Brasil-Bolívia, o Estado conta ainda com a reserva de hidrocarbonetos da Bacia de Santos, que engloba todo o litoral paulista, constituindo a região exploratória mais promissora atualmente na costa brasileira. 

Em 2012, 14 poços foram perfurados na Bacia de Santos, totalizando 51 (37 exploratórios), segundo a Petrobras.

Gás natural
Embora ainda restrito, o uso do gás natural vem crescendo no Estado. Em período de 15 anos, a participação desta fonte no consumo energético final passou de 2% para 6%. Com o início das operações, em 2011, do primeiro trecho do gasoduto Caraguatatuba/Taubaté (Gastau), essa participação deve aumentar.

Biocombustíveis
Com o objetivo de apoiar a pesquisa na área de biocombustíveis, criando conhecimento para a produção sustentável e aplicações baseadas principalmente em etanol de cana-de-açúcar, a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) dispõe do Programa de Pesquisa em Bioenergia (Bioen), que articula a pesquisa acadêmica e aplicada sobre bioenergia com empresas do setor. 

O CTBE (Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol) é instituição de pesquisa, desenvolvimento e inovação voltada à obtenção de etanol de cana-de-açúcar com alta produtividade, mediante o aproveitamento máximo de matéria-prima e a observância de práticas sustentáveis pelo setor produtor. 

A fim de fomentar a pesquisa científica e o desenvolvimento tecnológico aplicados à indústria do petróleo, do gás natural e dos biocombustíveis, a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) administra o CT Petro, fundo setorial de ciência e tecnologia voltado ao aumento da produtividade, à redução dos custos e à melhoria da qualidade dos produtos do setor.

Pré-sal
As recentes descobertas de reservas de petróleo na camada de pré-sal na costa brasileira podem ter reflexos não só na economia, mas também no desenvolvimento de tecnologias nacionais que simulem e aprimorem métodos de escoamento de óleo, dióxido de carbono e gás, sem a habitual dependência internacional, segundo divulgou o Correio Braziliense. 

Novo passo nesse sentido foi dado com a inauguração do Lemi (Laboratório de Escoamentos Multifásicos Industriais) da EESC (Escola de Engenharia de São Carlos), entidade com mais de 20 anos de experiência acadêmica em escoamento multifásico.