O leilão de energia realizado na sexta-feira provocou uma racha no setor eólico. O pivô da polêmica foi a Bioenergy, do empresário Sergio Marques, que vendeu a energia de sete novos parques eólicos no Maranhão por R$ 87,77 por MWh, o mais baixo preço já oferecido no país.
Os parques possuem potência instalada de 201 MW e representaram 73% da energia eólica comercializada no leilão.
A agressividade do empresário causou desconforto no setor, após ter recebido elogios do presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Mauricio Tolmasquim.
"O preço do Sérgio Marques [da Bioenergy] não é o preço da energia eólica no Brasil e não deve servir de referência", afirmou a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Melo.
A entidade levanta dúvidas sobre as taxas de retorno dos empreendimentos. "É difícil entender como alguém aceita uma remuneração tão baixa". Segundo Elbia, os preços preocupam os fornecedores que se instalaram no país.
Em entrevista ao Valor, Marques afirmou que as taxas de retorno dos parques eólicos ainda são de dois dígitos - entre 10% e 12% - e que pôde vender a energia a R$ 87 devido à combinação de uma série de fatores.
Entre eles, Marques cita a queda dos preço do aço, que responde por 60% do custo das turbinas, a facilidade de financiamento, redução das taxas de juros no país e no mundo, além do excesso de equipamentos eólicos nos Estados Unidos e Europa.
"Outro aspecto favorável é a curva de aprendizagem", disse Marques, que atua no setor eólico há cerca de 10 anos.
Após fechar os preços no leilão de sexta-feira, a Bioenergy está, neste momento, em negociações com três fornecedores de equipamentos. Um deles é a chinesa Sinovel.
A empresa não faz parte dos fabricantes credenciados pelos BNDES, mas, em compensação, é financiada pelo banco de fomento da China, que oferece condições agressivas de crédito. Os outros dois fabricantes com os quais a Bioenergy está negociando são a Alstom (França) e a GE (EUA).
Apesar da polêmica em torno dos preços, tanto a Bioenergy quanto a Abeeólica foram unânimes ao dizer que a demanda no leilão foi bem mais fraca do que a prevista, o que acendeu um sinal de alerta.
Foram vendidos apenas 574 MW, dos quais 281 MW de eólicas. A quantidade representa 10% dos 2,7 mil MW de energia eólica comercializados nos três leilões realizados em 2011.
Elbia prevê que a demanda volte a se normalizar. "No ano que vem, teremos leilões de verdade".
Neste ano, diz ela, as incertezas em torno das alocações da cotas da energia "velha", o desempenho mais fraco do PIB e a indefinição em torno das térmicas do Bertin atrapalharam a aquisição de novos contratos de energia pelas distribuidoras, mas essas questões tendem a ficar mais claras em 2013.
(Valor Econômico)