sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Energias Renováveis - ‘O ISI fará o meio de campo entre a indústria e academia’

Entrevista - Wilson da MataEngenheiro diretor do Instituto Senai de Inovação
Nadjara Martins

repórter
Até o dia 30 de setembro, o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) deve aprovar a liberação de recursos para a implantação do primeiro instituto em energias renováveis do Rio Grande do Norte. O Instituto Senai de Inovação (ISI) em Energias Renováveis, tocado em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, será instalado no campus da Escola Agrícola de Jundiaí, em Macaíba. O projeto – orçado em R$ 27,3 milhões  –  se propõe a interligar o conhecimento produzido na universidade à indústria nacional e local, principalmente no que condiz à energia eólica e solar, principal aposta do Estado para os próximos anos.
O ISI Energias Renováveis é apenas um dos 25 institutos de inovação que estão sendo instalados pelo Brasil a partir de parcerias entre o Senai e as universidades. De acordo com Wilson da Mata, engenheiro diretor do instituto no RN, a instalação do projeto deve durar 30 meses, a partir da assinatura do convênio entre Senai e UFRN. O instituto deve entrar em funcionamento em até oito anos. 
Cledivânia PereiraWilson da Mata é graduado em engenharia do petróleo e engenheiro de energia pela Universidade de Toulouse, professor da UFRN e diretor do Instituto Senai de Inovação (ISI) em Energias RenováveisWilson da Mata é graduado em engenharia do petróleo e engenheiro de energia pela Universidade de Toulouse, professor da UFRN e diretor do Instituto Senai de Inovação (ISI) em Energias Renováveis

Segundo Wilson da Mata, o instituto nasce principalmente de uma demanda local: número um na produção de energia eólica do país, o RN ainda é dependente da importação de equipamentos e tecnologia para a indústria do setor. “Apesar de sermos os primeiros em energias renováveis, ainda estamos engatinhando no assunto. Nossa função será ajudar a indústria a sanar essa deficiência. Não há dúvida que energia renovável será o futuro”, salienta o diretor.
A interligação entre indústria e universidade será um dos temas abordados durante a 21ª edição do seminário Motores do Desenvolvimento. Com tema “Internacionalização e Interiorização: desafios e oportunidades”, o evento acontece na próxima segunda-feira (8), no auditório da Fiern. Confira a entrevista completa com o pesquisador:

Como surgiu a ideia de criar o ISI Energias Renováveis no RN?
Na realidade esse projeto é do Senai Nacional, e tem uma série de ações para inserção da indústria, qualidade e melhora de tecnologia. Este projeto é para a criação de institutos Senai de inovação, alocados nacionalmente em 26 estados, em regiões de competência em determinadas áreas. Por exemplo, Energias Renováveis ficou no Rio Grande do Norte por diversos motivos. Um deles porque o RN é o primeiro nacionalmente em produção de energia eólica e o estado com maior incidência de radiação solar do Brasil. Esse projeto é calcado na assessoria internacionais: na do Instituto Fraunhofer, da Alemanha, e do MIT  (Massachusetts Institute of Tecnology), dos Estados Unidos. 

Como o instituto funcionará?
O instituto será um meio de campo entre a indústria e academia, fazendo com que a inovação aconteça de forma mais rápida. Os institutos Senais estarão sempre atrelados a uma universidade – no RN, a UFRN se tornou a parceria natural.

Mas como acontecerá essa mediação?
Todo setor industrial tem seus gargalos tecnológicos. Apesar de sermos os primeiros em energias renováveis, ainda estamos engatinhando no assunto. Existe uma dependência, por exemplo, de equipamentos, tecnologia, meios de execução. O instituto vai ter um diretor e nós vamos trabalhar em forma de rede nacional, cada um com sua área de atuação. Entretanto, algumas áreas são transversais, então nós vamos atrás das tecnologias, o que existe de inovação na área, o que é necessário, ajudando a indústria local e nacional a se desenvolver, criando um pólo de desenvolvimento naquele assunto. Por exemplo: aerogeradores, a maioria são importados. Então, nossa função será ajudar a indústria a sanar essa deficiência. Não há dúvida que energia renovável será o futuro, então esse desenvolvimento é preciso. 

A partir do momento que o instituto identifica esses gargalos, ele entrará em contato com a universidade?
Na prática a gente antevê. Vê o que é feito, o que é necessário, quais as tecnologias estão para acontecer e vamos expô-las ao mercado. Podemos buscar essa tecnologia em qualquer universidade e para qualquer indústria do país. Esse é o modelo utilizado nesses institutos internacionais.

Em que pé está a implantação do projeto?
O projeto já foi feito e está no Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), e o resultado da análise deve sair até o dia 30 de setembro. Na verdade, é um projeto que já foi previamente aprovado. Teremos a assinatura entre as partes e o tempo de maturação. Teremos 30 meses para instalação do instituto de oito anos para a seu completo funcionamento. O objetivo é ter de 35 a 40 pesquisadores no instituto. Pretendemos atrair brasileiros que trabalham fora do país e já têm sua área de pesquisa consolidada. O investimento geral é de R$27,3 milhões para o RN, com a parte de instalação física e equipamentos.

O objetivo é formar um parque tecnológico na região de Jundiaí?
Já existiam ações anteriores para que fosse criado um parque tecnológico no Estado, o que casou bem com nossa parceria com a UFRN. Nós vamos criar uma área simples próxima a universidade, para facilitar esse contato. A universidade cedeu o terreno em comodato por 25 anos, com mais 25 renováveis.

Além do campus, vocês têm a pretensão de atrair indústrias para esse polo?
A função direta não é trazer indústria, mas esse é um catalisador. É como aconteceu no Vale do Silício, nos Estados Unidos: a universidade se instalou e atraiu indústrias. A nossa pretensão é criar um pólo tecnológico, pode ser que outras indústrias venham para cá. 

Hoje, o RN é o primeiro em produção. Mas quais são os gargalos?
Existem alguns de infraestrutura, como a transmissão – para gerar energia, é preciso transmitir aos consumidoras – mas existem outros. Aerogeradores, que a indústria não consegue fabricar; nosso transporte viário e de porto que não conseguem transportar.

É preciso investimento do Estado?
Vão começar a ser discutidas ações para desenvolvimento posterior de políticas de Estado.

Nós vamos ter o Instituto fazendo a interligação entre a universidade e a indústria, mas cabe ao Estado também fomentar essa aproximação?
Nessa realidade existem diversas fontes para captação de recursos. Se a indústria tem um gargalo, ela pode ir direto em um instituto para procurar a solução; mas além disso existem diversos editais advindos de recursos de iniciativas, como o Inova, Embrapii, BNDEs. Determinada empresa quer desenvolver determinado produto mas não tem recursos precisa buscar esses recursos para o startup desse processo.

Qual a dificuldade de aproximação entre a indústria e as universidades?
Não há como fugir: a universidade é o celeiro da ciência. Os países que conseguem bem administrar essa aproximação são os que se desenvolvem mais, como EUA, Japão. O Brasil está abrindo isso como a nova tendência e fugindo um pouco daquilo como se a universidade fosse somente produtora de conhecimento. A indústria petroleira brasileira é uma das maiores do mundo porque se aproximou da universidade. A UFRN é um exemplo disso que, em conjunto com a Petrobrás, desenvolveu inúmeras ações. As duas partes ganham muito bem nisso aí.

A Lei da Inovação, que queria essa aproximação, não funcionou?
Bom, essa aproximação aconteceu em parte, mas depende dos dois entes. Na UFRN, alguns cursos se dão muito bem nisso, como Engenharia da Computação, Elétrica, Petróleo, a Física, que trabalham com inovação, pois conseguem pessoas que têm capacitação, dão bons resultados de pesquisa. Mas cabe a aproximação dessas cidades.

Existe, talvez, um desconhecimento da indústria?
Às vezes as pequenas empresas não têm nem capacidade de investir em desenvolvimento de tecnologia, mas as grandes têm e fazem isso.

Da parte da indústria local, já houve alguma sinalização, uma busca pela solução de um gargalo específico?
Existem alguns eventos em que sempre são discutidas essas coisas, é uma discussão permanente. Há algumas tecnologias que precisariam de implantação imediata. Na parte de eólica, é a praticalização de equipamentos. O que isso quer dizer? Não necessariamente o equipamento que é fabricado na Alemanha e importado seja adaptado às necessidades da indústria brasileira. A praticalização é isso: testar equipamentos importados, fazer adaptações e levar para que a indústria adquira a tecnologia e passe a fabricar uma tecnologia adaptada às nossas condições. Há também a smarth greed, que é a  geração de múltiplas energias e a colocação de rede, conforto ambiental. Várias áreas que teremos para trabalhar.

A universidade também se comprometeu na criação de cursos para essa nova indústria do RN?
Nós estamos aguardando a assinatura do convênio para começar a captar os grupos de pesquisa que já trabalham nessa área. Logo depois, começaremos a analisar quais são os cursos necessários para o desenvolvimento de recursos humanos para essa nova tendência. Fortemente, um cursos de energias renováveis, eólica ou solar, alguma especialização, isso com certeza será criado. Queremos algo perene, que você consiga manter a geração de recursos humanos. 

Fonte: www.tribunadonorte.com.br