terça-feira, 31 de julho de 2012

Tractebel mira expansão eólica e não descarta aquisições


Empresa também acompanha possibilidades em hidrelétricas e testa geração solar
Por Fabíola Binas, de São Paulo (SP)

Crédito: Arquivo Tractebel
                                                                 Eduardo Sattamini: expansão contínua em geração

Após ter viabilizado parques eólicos para a venda de energia no mercado livre, tendo sido a pioneira nessa modalidade de negócio no País, a Tractebel, controlada pelo grupo GDF Suez, continua atenta a possibilidades de negócio no setor. 

“Temos olhado vários projetos. Na procura de parceiros ou para, eventualmente, adquirir algum ativo”, revelou o diretor de relações com investidores da companhia, Eduardo Sattamini. 

A empresa tem cinco usinas em construção - quatro delas com a maioria da energia contratada no ambiente livre. E pode inscrever o quinto empreendimento, que será construído no Piauí, no próximo leilão - para a venda no ambiente regulado. 

“Neste parque, podemos fazer um mix”, comentou o executivo.

O setor de energia solar também não está descartado no futuro da companhia, que participa de um Programa de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (P&D) para estudar mais de perto as possibilidades de desenvolvimento da fonte no Brasil. 

“Estamos nos preparando caso venha a despontar este mercado”, disse Sattamini, após uma reunião com investidores na manhã desta sexta-feira (27/7).

Hidrelétricas
Na área de hidrelétricas a Tractebel, que tem cerca de 80% dos negócios concentrados na fonte, ainda crê em oportunidades. 

A empresa, que usualmente assume os negócios hidrelétricos captados pela sua controladora, a GDF, pode chegar a outros projetos nos próximos anos.

“Sabemos que a GDF estuda projetos como os do Rio Tapajós e Teles Pires”, observou o diretor de relações com investidores. 

Para se ter uma ideia, o parque gerador da empersa conta com 22 usinas (6.906 MW), das quais 81% são hidrelétricas, 17% termelétricas e outros 2% são fontes complementares.

“Avaliamos a todo o tempo o surgimento de novas oportunidades que podem garantir rentabilidade aos investidores”, resumiu Sattamini.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Experiência alemã revela potencial da energia solar

By Admin


Incentivos estabelecidos em lei difundem amplamente coletores e permitem à população vender energia gerada por eles. Preço da geração despenca e torna-se competitivo
Por Clarice Ferraz, no Blog Infopetro
Há mais de 10 anos, a Alemanha lançou um audacioso plano de apoio à expansão da produção e integração das energias renováveis em sua matriz energética, no qual a eletricidade de origem solar fotovoltaica recebeu atenção especial. 
 
Recentemente, “vítima de seu sucesso ” – bastante oneroso, e sofrendo os impactos da crise econômica mundial e europeia, o país está revendo sua política energética.

No momento em que o Brasil aguarda a definição dos critérios para a conexão da micro e minigeração distribuída às redes de distribuição, o caso alemão de integração de larga escala de energias renováveis merece ser analisado com atenção sobretudo por duas razões: o êxito da rápida expansão e integração das fontes renováveis e os problemas que decorreram da falta de limites do programa. 
 
É importante lembrar que a Alemanha possui importante nível de atividade industrial forte consumidora de eletricidade, e que é o país que melhor tem enfrentado a crise europeia, apesar de ter os preços de sua eletricidade elevados.

Em 2000, Alemanha implementou o German Renewable Energy Sources Act, conhecido como EEG. O plano se baseia na remuneração da eletricidade gerada a partir de fontes renováveis através do sistema feed-in tariff [1] com venda garantida durante vinte anos. O nível das tarifas é ajustado para baixo anualmente e revisto a cada três ou quatro anos para incentivar a competitividade com outras fontes de geração a longo termo.

Na época em que foi lançado, os custos dos sistemas fotovoltaicos eram extremamente elevados e por isso o apoio do programa foi fundamental para viabilizar o desenvolvimento da indústria e a integração da fonte. 
 
Ao mesmo tempo, os custos elevados do apoio ao solar fotovoltaico já representavam um peso importante para o programa. Os custos do EEG são financiados por uma taxa cobrada nas tarifas de todos os consumidores de eletricidade, com exceção de algumas categorias, como os grandes consumidores industriais.

Nos últimos anos, o programa de compra garantida passou a representar custos mais elevados do que o previsto e a sobretaxa cobrada para seu financiamento teve que ser aumentada. Em realidade, a Alemanha não esperava que fosse haver uma adesão tão expressiva da população. 
 
O país ultrapassou constantemente suas metas de expansão da capacidade instalada de geração solar fotovoltaica. Diante das altas tarifas remunerando essa fonte de geração, e face a uma redução radical dos custos dos sistemas fotovoltaicos, milhares de cidadãos resolveram se tornar produtores de eletricidade e assim aumentar sua renda, afinal o EEG garantia por lei que a eletricidade seria comprada.
 
O sucesso foi tamanho que em 2010, o país respondia por 44% da capacidade instalada global (Grau, 2012). O gráfico abaixo ilustra o rápido avanço do solar fotovoltaico no mundo e a liderança alemã, superada somente em 2011 pela China.



Fonte: Diekmann, Kemfert e Neuhoff, 2012.

Afim de reduzir o impacto financeiro sobre o EEG, o governo começou a prever uma série de ajustes a partir de 2009. Houve redução do nível da tarifa e aumento do grau de reajuste negativo do preço da tarifa. 
 
Os esforços entretanto não foram suficientes pois a velocidade da queda dos custos dos sistemas fotovoltaicos foi ainda mais expressiva. Nos últimos cinco anos a queda foi de 57% (Grau, 2012), como mostra o gráfico abaixo. O número de microgeradores continuou a aumentar.


Fonte: Diekmann, Kemfert e Neuhoff, 2012.
 
Em dezembro de 2011, foi registrado um novo recorde de instalações de sistemas solares fotovoltaicos totalizando um acréscimo de 7,5 mil MWsomente em 2011 – a EPE (2012) estima que o Brasil possui 20 MW. Em janeiro deste ano, o governo adotou medidas mais radicais para frear a expansão da geração de eletricidade de origem solar fotovoltaica: uma redução da tarifa oferecida, reduções mensais progressivas a uma taxa fixa e um modelo de integração de mercado. O modelo proposto ainda se encontra em discussão no parlamento.

Diekmann, Kemfert e Neuhoff (2012), assim como Grau (2012), se preocupam com a severidade das medidas que o governo pretende adotar. Em 2010, o governo previa uma expansão da capacidade de geração fotovoltaica de 52 GW para 2020[2]. Se a revisão pretendida for adotada com sucesso, a meta prevista cai para 33 GW, um terço a menos do que o esperado há menos de 2 anos.

Os autores acreditam que o corte na tarifa é muito elevado e acrescentam que adotar um sistema de redução da remuneração a taxas fixas é contra a dinâmica do mercado. Afinal, não se pode saber de antemão a que ritmo a tecnologia continuará a ter seus custos reduzidos ou se tornar efetivamente competitiva com outras fontes de geração. 
 
Ora, os problemas que o governo enfrenta atualmente são justamente dessa natureza, afinal ele não foi capaz de prever o ritmo de redução dos custos e ajustar de forma adequada a remuneração ofertada. As reduções devem portanto seguir a dinâmica de preços do mercado.

Dessa forma, o desafio do governo é encontrar um sistema em que haja uma penetração de solar fotovoltaico a um ritmo mais lento, que limite os custos do programa e consequentemente o impacto sobre a tarifa de eletricidade (Diekmann, Kemfert e Neuhoff, 2012).

Se a preocupação em limitar os custos do EEG é legítima, o governo deve tomar cuidado para não provocar um brusco desinteresse pela fonte e afetar negativamente toda a cadeia de produção e implementação que existe atualmente. Além do reajuste dinâmico de preços, seguindo a queda dos preços da instalação dos sistemas fotovoltaicos, existem outros instrumento de incitativos desenvolvidos para que as pessoas não busquem produzir eletricidade além de suas necessidades de consumo. 
 
Uma delas é justamente o sistema de net metering onde o microgerador que produzir eletricidade excedente é remunerado “fisicamente”, em KWh, e não financeiramente. Não há interesse em se produzir além do que se pode consumir. Esse é o modelo previsto pela Resolução Normativa n° 482, de 17 de abril de 2012, da ANEEL que rege o acesso de micro e minigeração distribuída aos sistemas de distribuição de energia elétrica.

É interessante notar que apesar de todo esse esforço e do avanço da indústria solar fotovoltaica na Alemanha, o país ainda não atingiu a paridade tarifária (discutida no post anterior sobre o solar fotovoltaico no Brasil). A Alemanha ainda precisa de subsídios que viabilizem a integração da fonte na sua matriz.

No caso brasileiro a micro e a minigeração solar fotovoltaica distribuída já são competitivas em diversas regiões e nesse momento o mais importante em termos de regulamentação é evitar barreiras artificiais que impeçam as pessoas de gerarem sua própria eletricidade e se integrarem à rede distribuição.


Bibliografia:

Dieckmann, J., Kemfert, C. and Neuhoff, K., “The proposed adjustment of Germany’s Renewable Energy Law – a critical assessment”, DIW Berlin, Volume 2, No 6, 1° Junho 2012.

EPE, Nota Técnica EPE, “Análise da Inserção da Geração Solar na Matriz Elétrica Brasileira”, Rio de Janeiro, Maio 2012.

Grau, T., “Targetted Support for New Photovoltaic Installations Requires Flexible and regular Adjustments”, DIW Berlin, Volume 2, No 6, 1° Junho 2012.

Morris, C., “ German solar bubble? Look again!”, European Energy Review, 5 de julho de 2012.

[1] No sistemade feed-in tariff a eletricidade gerada é remunerada a um preço premio (acima do cobrado pelas distribuidoras) durante um largo período de tempo afim que o investidor tenha um fluxo de caixa contínuo que remunere seu investimento sem nenhum risco

[2] Federal Republic of Germany’s 2010 Action Plan.
 

terça-feira, 24 de julho de 2012

De 1,8GW do leilão eólico de 2009, apenas 370MW entram em operação no prazo

Falta de transmissão impede 646 MW de gerar; outras usinas devem estar prontas até julho de 2013
Por Wagner Freire

Crédito: Print do site da Bons Ventos



Em 2009, o setor elétrico comemorou o sucesso do primeiro leilão de energia realizado pelo governo exclusivamente para contratação de parques eólicos. No entanto, dos 1.841MW comercializados naquele certame, apenas 370MW em usinas já são uma realidade e estão gerando eletricidade para o sistema.


Conforme balanço feito pela Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), a pedido do Jornal da Energia, há ainda outros 646 MW prontos para operar, mas impedidos de fazê-lo pela ausência de linhas de transmissão. 


Essas linhas, as chamadas ICGs, estão a cargo da Chesf e devem ficar prontas só no ano que vem. Outros 703,7 MW estão fora do cronograma original, que previa início de operação em 1 de julho de 2012.

Como exceção, há os parques de Icarai I e II, Taiba Aguia, Taiba Andorinha e Colônia. Esses projetos, que somam 121,8MW no Ceará, receberam aval da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para postergar a entrada em operação. 


Nestes casos, a agência entendeu que houve demora na emissão dos atos de outorga, alteração das características de transmissão, bem como mudança de política governamental de financiamento.

Isso porque os empreendimentos, da Energio, estavam aprovados pelo Banco do Nordeste, mas tiveram que ser redirecionado para o BNDES, que exige um índice maior de nacionalização. 


Esses fatores fizeram com que a Aneel transferisse as datas, que agora variam entre novembro e dezembro deste ano.

Dos atrasados
Dos 703,7 MW que estão fora do cronograma, a previsão de operação comercial mais distante é do parque eólico de Araras, de responsabilidade da Energimp. 


A usina tem início de geração esperado para julho de 2013, um ano depois da data original. O empreendimento tem 30MW e está construção no Ceará.

Outros, como Osório 2 (24MW, RS), Sangradouro 2 (26MW, RS) e Miassaba 3 (50,4MW, RN), são os mais próximos de operar. 


Em relatório, a área de fiscalização da Aneel esperava que essas usinas começassem a funcionar em junho, mas a expectativa não foi cumprida até o momento. 


Os dois primeiros são de responsabilidade da Elecnor-Enerfin, enquanto o último é de sociedade de propósito específico (SPE) formada por Eletronorte, Furnas, Bioenergy e J. Malucelli.

No relatório obtido pela reportagem não são colocadas as causas dos atrasos. 


A única menção está relacionada ao licenciamento ambiental, mas a Abeeólica explica que "cada empreendedor possui seus motivos para atraso" e que alguns, inclusive, já têm pedido postergação dos prazos para a agência reguladora.


Fonte: www.jornaldaenergia.com.br

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Energia solar e a descentralização da energia



“O Brasil tem um potencial de energia solar e eólica ainda inexplorado”, assinala o engenheiro Eloy Casagrande Jr.

A notícia de que 15% dos domicílios brasileiros dispõem de energia solar demonstra, na avaliação de Eloy Casagrande Jr., que “o governo começa a reconhecer as energias renováveis como a solar, a eólica e a biomassa. 

Representa que, de algum modo, o país está saindo desse paradigma da energia hidrelétrica e termoelétrica”. 

Segundo ele, o atual momento de transição de energia fóssil para energia renovável exige maiores investimentos em tecnologia, informação, educação, inovação e incentivo no sentido de “criar condições para que essa energia possa ser consolidada”. Tal mudança, assegura, depende da “mão forte” do governo.

Em entrevista concedida por telefone para ao IHU On-Line, o pesquisador assinala que os investimentos atuais apontam para a energia descentralizada no futuro. 

“A última resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sinaliza para que os consumidores, a partir de 2013, possam instalar uma regulamentação para energia fotovoltaica, energia eólica e energia de biomassa, ou seja, para que possam instalar minigeradores, microgeradores nas suas casas, nos escritórios, no hospital, em escolas e, a partir disso, estar conectados à rede”.

Eloy Casagrande Jr. é doutor em Engenharia de Recursos Minerais e Meio Ambiente, pela University of Nottingham, e pós-doutor em Inovação Tecnológica e Sustentabilidade, pelo Instituto Superior Técnico (IST), de Lisboa. Atualmente é professor na Universidade Tecnológica Federal do Paraná.


Confira a entrevista.

IHU On-Line – O Ministério de Minas e Energia divulgou que 15% dos domicílios brasileiros já dispõem de energia solar. O que esse percentual significa em termos de investimento em energia renovável?

Eloy Casagrande Jr. – Significa muito à medida que o governo começa a reconhecer as energias renováveis como a solar, a eólica e a biomassa. Representa que, de algum modo, o país está saindo desse paradigma da energia hidrelétrica e termoelétrica. 

O investimento nas energias renováveis contribui para a redução de emissões, para uma maior eficiência energética, gerando menos gastos à sociedade. Então, o governo poderia aumentar, como fizeram em outros países, a linha de apoio por meio de isenções fiscais, linhas de financiamento especiais, porque, com esse tipo de apoio, se consegue que novas tecnologias entrem no mercado com mais força, possibilitando o acesso dos consumidores.

IHU On-Line – Por que o investimento em energia solar ainda é baixo, visto que o país possui os recursos necessários? Como entender a falta de incentivo para a produção de energia alternativa no Brasil, como a energia solar, por exemplo?

Eloy Casagrande Jr. – O Brasil tem um potencial de energia solar e eólica ainda inexplorado. De fato, há uma baixa geração comparada ao potencial brasileiro. Nesse sentido, ainda há um caminho longo para percorrer em termos de desenvolvimento, tecnologia, know-how, criação de mais empregos, etc. 

Quando um país começa a sair do paradigma de uma energia poluente, como a energia baseada no combustível fóssil, e passa a investir em uma energia como a renovável, tem que investir em informação, educação, inovação, e precisa criar condições para que essa energia possa ser consolidada no mercado. 

Vejo que em todos os países isso acontece por meio de ações do governo. Não se pode deixar o mercado atuar sem nenhum tipo de apoio. Há de ter aí a “mão forte” do governo para isso acontecer.

IHU On-Line – A proposta para a ampliação da energia solar consiste em investir em um modelo de energia descentralizado ou num modelo centralizado?

Eloy Casagrande Jr. – Os investimentos apontam para a energia descentralizada. A última resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sinaliza para que os consumidores, a partir de 2013, possam instalar uma regulamentação para energia fotovoltaica, energia eólica e energia de biomassa, ou seja, para que possam instalar minigeradores, microgeradores nas suas casas, nos escritórios, no hospital, numa escola, e a partir disso estar conectados à rede. 

Vamos nos tornar todos distribuidores de energia. Este é um modelo que já existe fora do Brasil há muitos anos. Ao investir nesse modelo, se tem a possibilidade de reduzir os custos da instalação, por exemplo, de painéis fotovoltaicos, que ainda necessitam das baterias. 

Além disso, ao produzir essa energia que não será consumida, será possível trocá-la por crédito de energia da rede, para utilizar a energia em momentos em que não há Sol, como à noite. Nesse sentido, percebe-se que há uma tendência clara para descentralizar a energia. Evidentemente, não se trata de grandes geradores, mas já é um avanço.

IHU On-Line – Quais os desafios em relação à energia solar no país? É possível garantir a eficiência energética investindo somente em energias renováveis?

Eloy Casagrande Jr. – Temos que olhar a energia do ponto de vista sistêmico. Qualquer geração de energia do futuro vai ter que ser composta de diversas fontes. Não se pode, por exemplo, depender somente da energia oriunda de hidrelétricas, pois basta não chover por um período e ficaremos sem energia. Então, a matriz energética tem de oferecer um conjunto de ofertas de energia, que possam suprir as deficiências de cada uma.

Quando se discute a matriz energética, não se trata de dizer que a melhor energia é a hidrelétrica, a solar ou a eólica. O conjunto delas, associado a um bom programa de eficiência energética, o qual o Brasil precisa assumir, traria resultados. 

Ainda há muito o que fazer em relação às perdas de distribuição, em relação à melhoria dos equipamentos e dos produtos que utilizam energia elétrica, como os eletrodomésticos. As próprias construções também podem ser um alvo de estudo em posição de maior eficiência energética. Na Universidade Federal do Paraná, por exemplo, realizamos o projeto do “escritório verde”, que aponta um conjunto de soluções para maior eficiência energética e uso racional da energia. 

Entre as propostas, estuda-se o isolamento térmico de futuras casas, com vidros e paredes duplas, com iluminação natural, com energia solar e com lâmpadas leves. Então, é esse conjunto de tecnologias e equipamentos que vai determinar o quanto de energia será possível dispor no futuro, trazendo economia.

IHU On-Line – A energia solar seria positiva no sentido de não permitir perda de energia na distribuição?

Eloy Casagrande Jr. – Perde-se muita energia na distribuição de energia elétrica para as fontes consumidoras. A energia solar descentralizada é direta, pois se conectam painéis que estão numa determinada residência à rede, e se estabelece uma rede de energia na própria residência. Então, de fato, não se tem perda de energia nesse sentido.

No caso da distribuição das energias hidrelétrica, termoelétrica e nuclear, há muitas perdas de energia. Isto tem de ser corrigido, tem que haver maiores investimentos nessas áreas.

IHU On-Line – Como o senhor avalia esse investimento maciço do governo na construção de novas hidrelétricas para os próximos anos? Considerando a necessidade de investir em energias renováveis, a política do governo está no caminho certo?

Eloy Casagrande Jr. – A construção de novas hidrelétricas é discutível, porque ainda se investe bastante neste modelo sem pensar nas outras fontes. Então, o Brasil ainda depende muito desse tipo de energia e, como disse antes, sem corrigir os erros que existem no próprio modelo de matriz energética brasileira. 

Corrigindo esses erros e investindo em energias renováveis, poderíamos reduzir os custos sociais, ambientais e econômicos que implicam a construção de novas hidrelétricas. Hoje, a construção de hidrelétricas é causa de um grande debate entre os ambientalistas, por causa das áreas indígenas que serão afetadas, das áreas agrícolas que serão alagadas, das populações que serão deslocadas. 

Tudo isso poderia ter sido evitado caso houvesse um planejamento. É um problema o fato desses projetos saírem direto de Brasília, sem passar por uma consulta mais ampla com a sociedade.

IHU On-Line – É possível vislumbrar a geração de energia descentralizada e autossuficiente no futuro?

Eloy Casagrande Jr. – Não sei se vamos ver um modelo energético autossuficiente no futuro, mas podemos encaminhar para não sermos tão dependentes de um modelo centralizado. Claro que isso mexe com grandes negócios, mexe com grandes lobbies, que estão envolvidos com a energia elétrica, desde que ela se tornou umacommodity que capta, concentra e vende a energia. 

Essas empresas de energia elétrica têm ações na bolsa de valores. Energia virou um produto que precisa render. Essa visão também já nos traz uma visão mercantilista da energia.

No futuro até podemos discutir essa visão, mas hoje é o modelo que temos: existem grandes interesses econômicos ao redor de tudo isso, e se formos fazer uma retrospectiva histórica da construção das hidrelétricas no Brasil, veremos que são as mesmas construtoras que constroem as hidrelétricas de hoje.

IHU On-Line – Quais as novidades e desafios atuais envolvendo as pesquisas com energia solar fotovoltaica, célula solar fotovoltaica, geração descentralizada de energia e painéis fotovoltaicos?

Eloy Casagrande Jr. – Tem-se buscado melhorar muito a eficiência das células fotovoltaicas, que são feitas à base do silício, investigando-se novos materiais. As células fotovoltaicas têm uma baixa eficiência, por isso é preciso uma área grande de painéis, telhados, para captar a luz solar. 

Tem se investido muito em pesquisas, e espero que, num futuro próximo, ainda possamos conhecer células fotovoltaicas mais eficientes. Tem-se investido também na questão dos modelos de geradores eólicos, e já se tem geradores de grande potência e geradores de menor potência em nível residencial. Com a resolução da Aneel, o uso dessas tecnologias tendem a avançar.

Também estão surgindo pesquisas de telhas solares que possibilitarão substituir os painéis solares. As próprias telhas das casas poderão conter células fotovoltaicas. Também estão surgindo painéis de fachada, que complementam a estética de um prédio e fazem a captação de células fotovoltaicas. Há muita coisa nova. 

A tendência é, entre cinco ou dez anos, ter um mercado muito mais atraente para o consumidor.

* Publicado originalmente no site IHU-Online.(IHU-Online)

Via www.envolverde.com.br

terça-feira, 17 de julho de 2012

Controladores do BMG investem em eólica

A família mineira Pentagna Guimarães, dona do banco BMG, está revendo seus negócios. A intenção é fortalecer atividades não financeiras, principalmente na área de energia e agrícola. As novas apostas envolvem desde unidades eólicas a uma fazenda para produção de alimentos em Moçambique, no leste africano.


Nessa redefinição de perfil, o clã se desfaz de algumas empresas não financeiras para se concentrar nos ramos em que acredita mais. Hoje, por exemplo, a Brasfrigo, fábrica de vegetais em conserva, sopas, molho de tomate entre outros produtos encerra suas atividades.

A Brasfrigo é dona de marcas Jurema, Jussara e Tomatino e deve demitir, hoje, cerca de 200 funcionários. A fábrica fica em Luziânia, Goiás. Outros 200 funcionários permanecem na empresa cuidando da manutenção e dos estoques até que a fábrica seja vendida. O vice-presidente da holding não-financeira da família, Daniel Ribeiro Kaltenbach, espera que as negociações para a venda sejam concluídas em 60 dias. A empresa já teve 1.500 funcionários, mas vem reduzindo seu quadro desde o ano passado.

Atualmente, aproximadamente 80% da receita do ramo dos Pentagna Guimarães que é ligado ao banco - e cujas atividades empresariais em Minas remontam ao fim do século 19 - vem das atividades financeiras, diz Kaltenbach.

Na semana passada, os controladores fecharam uma parceria com o Itaú Unibanco para criação de um terceiro banco que só atuará com crédito consignado - produto no qual o BMG se especializou. A expectativa da família é que o BMG continue crescendo, mas, que dentro de cinco anos, a dependência em relação à instituição e a outras empresas do setor financeiro seja menor, diz o executivo. "A meta é aproximar a lucratividade das não financeiras à do banco."

Segundo ele, em vez da relação 80% e 20%, o que se quer é que os negócios financeiros e não financeiros cada um mais ou menos com 50% da lucratividade, diz Kaltenbach. No ano passado, o banco teve lucro líquido de R$ 583,5 milhões. As empresas não financeiras - sobretudo as fazendas em Minas e a Brasfrigo - registraram faturamento de R$ 350 milhões.

A reestruturação dos negócios e o fortalecimento das atividades não bancárias começaram a ser desenhados em 2011 e não tem relação com a operação com o Itaú, diz o executivo. Mas são ações que de alguma maneira se ajudam: a parceria com o Itaú pode ajudar a fortalecer a marca BMG em outros negócios e vice-versa, diz.

Antes de fechar a Brasfrigo, os Pentagna Guimarães já se desfizeram de duas empresas: uma de tratamento de água, a Etatec, e outra de medidores de consumo de energia, a Electrometer. "Nosso objetivo é manter o foco em alguns segmentos que consideramos estratégicos para o desenvolvimento do país, em setores do futuro."

O presidente da holding não financeira, a Empresa Brasileiras de Desenvolvimento e Participações, é Flávio Pentagna Guimarães, o patriarca octogenário que participa ativamente dos novos projetos assim como das discussões sobre os negócios financeiros.

Um dos projetos "do futuro" nos quais a família está investindo é o de geração eólica. A holding tem uma parceria com Furnas e está construindo usinas eólicas no Rio Grande do Norte e no Ceará. A empresa do grupo BMG venceu um leilão de energia no ano passado, o qual cumprirá com esse projeto.

"Nos próximos dois anos, nossos investimentos no setor de energia serão de R$ 500 milhões. Não só em eólica, mas também na fábrica de torres de transmissão", diz Kaltenbach. Esse é outro negócio "do futuro" no qual aposta. O executivo diz que espera dobrar a receita da Damp (que atua na transmissão) em 2013 para R$ 120 milhões. Ainda no setor de energia, outro projeto é o de construção de linhas de transmissão, já em curso, em parceria com a Abengoa.

Os planos incluem investimentos em Moçambique. Donos da 120 mil hectares de café, soja, milho, feijão e onde também criam gado no Brasil, eles trabalham em um projeto de plantio para produção de alimentos no país africano para exportar para o mercado sul-africano, asiático e do Oriente Médio. O projeto deve ser de plantio de soja ou tomate. O projeto envolve arrendamento de terras.

Fonte: Valor Econômico

terça-feira, 10 de julho de 2012

O mercado de energia eólica na Argentina

BY JULIANA.PASSADORE
O convidado desta semana para escrever em nosso blog é o analista da área de Energia da Frost & Sullivan, Martin Cataife. 

Formado em relações internacionais pela Universidad de San Andres e terminando um mestrado pela Universidad Torcuato Di Tella, Martin atua como analista de mercado na Frost & Sullivan, cobrindo o mercado de Energia na região do Cone Sul (Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai). 

Sua expertise engloba temas como o mercado de geração, transmissão e distribuição de energia elétrcia, além do setor de renováveis, com foco para energia eólica e solar.

TENDÊNCIAS RECENTES DA ENERGIA EÓLICA NA ARGENTINA

Onde estamos e qual será o próximo passo? 

Por Martin Cataife



“O mercado eólico possui um papel crescente na geração de energia da Argentina”, relatam os participantes da primeira Conferencia e Expoxição Eólica, que foi realizada de 3 a 5 de julho 2012, na La Rural em Buenos Aires.



A Argentina tem o potêncial para criar uma indústria dinâmica da energia eólica, principalmente devido à combinação de alguns fatores. Em primeiro lugar, o país apresenta um recurso eólico que oferece um fator de capacidade da ordem de 35% em mais de 50%, sendo a região da Patagônia um dos locais mais promissores para a instalação de parques eólicos, por ser uma área comdensidade populacional baixa.


Além disso, as condições da rede elétrica nesta região tem melhorado de forma siginificativa, principalmente se levamos em consideração que a região operou de forma independente do sistema interconectado nacional até 2005, quando finalizou a interconexão ao SADI (Sistema Argentino de Interconexão).

A capacidade de transmissão do SADI aumentou em 7,4% desde 2005. E, em relação à Patagonia, se destacam a linha de transmissão do SADI em 500kv que liga Pico Truncado e Puerto Madryn com Choele-Choel. 


Ou seja, as possibilidades de conexão para os parques eólicos tem melhorado muito nos últimos cinco anos, sendo que o governo oferece PPA (Contratos de Compra de Energia) de 15 anos, com acesso garantido à rede e uma taxa fixada em dólares.

Todos estes fatores culminaram no desenvolvimento, a nível local, de um aindústria de turbinas eólicas que hoje dispõe de três fabricantes, além da recente formação do Cluster Eólico Argentino, com a finalidade de promover o desenvolvimento da indústria de energia eólica de forma coordenada na comunidade empresarial.

Assim, o mercado atravessa um período de crescimento na capacidade instalada de geração com turbinas eólicas. Atualmente, o Parque Eólico Arauco dispõe de 25MW de potência instalada com 12 turbinas de 2.1MW. 

O Parque Eólico Rawson, possui uma potência instalada de 77.4MW distribuida em 43 turbinas de 1.8 MW, sendo a velocidade média anual do vento é de 8.1m/s (29.2 km/h) a 80m de altura. 

Além disso, está em construção o Parque Eólico de Puerto Madryn, cuja capacidade instalada chegará a 220MW com 119 turbinas de 1.8MW.

E vão ser construídos, pelo menos, 600MW da licitação realizada pela empresa de capital público ENARSA, além de mais três projetos na provincia de Neuquén, que alcançariam 225MW de potência instalada – trata-se de um projeto com um investimento de 300 milhões de dólares. 

Hoje, na realidade, existem mais de 30 projetos em desenvolvimento.

Por outro lado, com relação às restrições ao crescimento deste mercado, as empresas que obtiveram as especificações para a construção de parques eólicos estão enfrentando desafios difíceis de superar. 

A nível internacional, existem limitações no mercado de capital para o país, produto do não cumprimento da dívida da Argentina, o que impõe taxas restritivas para o financiamento de projetos. 

A nível local, os baixos preços da energia, que são regulamentados e subsidiados pelo governo nacional desde a crise de 2001, têm impacto na competitividade dos recursos eólicos.

Além disso, a Argentina também deve atualizar sua legislação em termos de energias renováveis, instrumentando o net metering, como deveacontecer no Chile e no Brasil, ou atualizando os padrões de Energia Plus, onde a energia eólica tem participação atualmente.

Embora se trate de uma fase inicial da indústria eólica, as possibilidades de crescimento no mercado de turbinas são promissores para as próximas décadas, tendo em conta os objetivos definidos pela Lei 26.190, onde a Argentina se comprometeu a aumentar a geração de energia renovável em oito por cento da energia total gerada em 2016.


Fonte: www.jornaldaenergia.com.br