Semana foi fechada por aquisições; MPX, EDP e Copel anunciam transações, enquanto Light admite negociação com a Renova Energia
Por Luciano Costa
O setor elétrico viveu dias movimentados nesta semana, quando três empresas anunciaram aquisições e uma quarta admitiu negociações em andamento para um possível negócio. No início do mês, a Cemig já havia iniciado uma movimentação, ao anunciar a compra, por sua controlada Taesa, de ativos da transmissora de energia espanhola Abengoa por um custo de R$1 bilhão.
Na quarta-feira (14/5), a EDP Energias do Brasil, subsidiária brasileira do grupo português, surpreendeu o mercado com a aquisição de 90% da hidrelétrica de Santo Antônio do Jari (300MW). A planta, que tem licença de instalação do Ibama para expansão até 373MW, receberá investimentos entre R$1,27 bilhão e R$1,4 bilhão. A parcela que ficará nas mãos da EDP pertencia à ECE Participações, enquanto os restantes 10% pertencem ao consórcio Amapá Energia. A EDP ainda terá a opção de obter essa participação até 15 de julho.
"Avaliamos que essa certamente deve ser a trajetória da EDP, de buscar fazer investimentos somente em geração, já que em distribuição ela não é uma consolidadora - tem apenas duas distribuidoras e em uma distância grande uma da outra, não tem economia de escala", analisa o professor Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Gesel-UFRJ).
Na quinta-feira (15/5), a MPX, braço de energia da holding EBX, do empresário Eike Batista, fechou a compra da concessão de duas termelétricas do Grupo Bertin. As usinas, localizadas no Espírito Santo, somam 630MW de potência e precisam iniciar a geração até janeiro de 2013, pois venderam energia em um leilão A-5 realizado em 2008. A companhia também revelou que pretende obter autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para construir as usinas no Maranhão, onde possui campos de gás em parceria com sua coligada OGX. A empresa ainda tem licença ambiental para instalar mais de 1.800MW em térmicas na região.
Para analista da Ativa Corretora, Ricardo Corrêa, os campos da OGX no Maranhão têm reservas de gás que, por sua localização, "não são facilmente monetizáveis", a não ser com a implantação de termelétricas. "À medida que a empresa coloca usinas, vai gerar valor. E essa geração de valor é muito maior do que teria qualquer outra empresa, porque ela (a MPX) tem a fonte primária da térmica". Corrêa afirma que "o mercado recebeu bem" a notícia e acredita que, devido aos problemas enfrentados pela Bertin com suas usinas, a Aneel deve aprovar rapidamente a operação.
Ainda na quinta, a estatal paranaense Copel comunicou ao mercado a aquisição de 49,9% em quatro parques eólicos da Galvão Energia. As usinas, que somam 94MW, venderam energia no leilão de fontes alternativas do ano passado e serão construídos no Rio Grande do Norte. Na visão de Ricardo Corrêa, da Ativa, a transação é pequena, e não tem tanta relevância para a avaliação da Copel. "Isso está mais posicionado à estratégia da empresa, para conhecer a indústria (eólica), conhecer o negócio", explica.
Mesmo sem conhecer os termos da negociação, não divulgados pela companhia, Corrêa arrisca dizer que "a energia eólica não tem se provado como meio de geração de valor muito relevante, a não ser apra fabricantes de equipamentos e agentes que trabalham em outras partes da cadeia produtiva". Segundo o analista, "os preço praticados nos leilões não remuneram o capex (investimento necessário)" dos projetos.
Nesse sentido, Corrêa também tem posicionamento crítico quanto à atitude da Light, que, também na quinta, admitiu ao mercado que negocia um investimento na Renova Energia - empresa com foco em fontes limpas e, mais recentemente, em eólicas. "Essa notícia é especialimente negativa para a Light", pontua. O analista da Ativa vê o movimento como um uso da distribuidora fluminense pela Cemig, sua controladora.
"A Light vinha defendendo que a Cemig não iria praticar ingerência em seus planos e está demonstrado agora, para quem tinha alguma dúvida, que isso não é necessariamente verdade", alfineta Corrêa. Nivalde de Castro, do Gesel-UFRJ, também enxerga a possível transação como um passo guiado pela empresa mineira. O especialista, no entando, aponta os aportes de grandes distribuidoras em fontes renováveis como "uma tendência". "A CPFL, a Light agora, a Copel, a própria Cemig, fizeram esse movimento. A energia eólica vai entrar muito firme na matriz elétrica", prevê Castro.
Cenário
O professor da UFRJ afirma que os diversos negócios fechados nesta semana fazem parte do processo de consolidação do setor elétrico brasileiro. "È um movimento mais geral: os grandes grupos, consolidadores, estão se movendo". Castro também não descarta novas vendas de ativos pelo Grupo Bertin, que tem enfrentado problemas com usinas atrasadas e inadimplência no mercado de curto prazo de energia elétrica. "Ele não tem mais capacidade de se manter no mercado. O problema é saber se vai ter gente para comprar".
Para Castro, a tendência de consolidação deve ainda se acelerar com o terceiro ciclo de revisão tarifária, atualmente em estudos na Aneel. O ciclo vai, de acordo com o especialista, reduzir a capacidade de geração de caixa, o que tornará grupos menos equilibrados presas mais fáceis no processo. "Quem tem uma situação econômico-financeira estável consegue financiamento, enquanto os menos estruturados tendem a ser absorvidos".
Marco Antonio Fujihara, diretor da consultoria KeyAssociados, crê que de fato existe "um momento de consolidação" no País. "O que acontece de fato é qeu a escala, em qualquer negócio de energia, é muito importante. É uma tendência que vejo com bons olhos, tende a melhorar o processo", analisa o executivo.