terça-feira, 28 de junho de 2011

IHA cria protocolo de sustentabilidade para hidrelétricas

Lançamento foi feito na quinta-feira (16/6), em Foz do Iguaçu; projeto contou com colaboração da WWF-Brasil

Por Wagner Freire

Crédito: hidrls

A Associação Internacional de Hidroenergia (IHA, na sigla em inglês) acaba de lançar uma ferramenta que, em sua essência, pretende contribuir no planejamento e na construção de hidrelétricas em compromisso com o meio ambiente. Chamada de “Protocolo de Sustentabilidade”, trata-se de uma série de exigências socioambientais elaboradas por construtoras, entidades governamentais e ONGs que irá estabelecer um ranking classificatório dos empreendimentos, medindo o impacto das usinas na comunidade afetada e no meio ambiente.

Quem explica como funcionará esse protocolo é Pedro Bara Neto, coordenador de infraestrutura da Iniciativa Amazônica Viva, da Rede WWF-Brasil. "Será elaborada uma série de perguntas e respostas, as quais receberão um ranking. Se o projeto for mal classificado, ou seja, tirou nota baixa, significa que existe uma insatisfação por parte da sociedade".

"A adesão será voluntária, mas se a ideia tiver apoio de bancos e ganhar a confiança de todos, as agências financiadoras poderão no futuro até levar em consideração o resultado na hora de emprestar dinheiro a projetos que não tiveram boa classificação", destaca Bara Neto. 

Para Joerg Hartmann, que liderou a participação da WWF na construção do Protocolo, “trata-se de um mecanismo a mais para comunidade que garante que suas demandas sejam levadas a sério desde os primeiros passos do empreendimento e não após a tomada de decisões cruciais pelos governos e companhias". O ambientalista afirma ainda que, a solução também será útil para as empresas. "Trata-se de uma ferramenta que evitará uma aventura por "elefantes brancos" que irão provocar conflitos desnecessários e prejuízos futuros”.

De acordo com Hartmann, a Rede WWF assume o compromisso de apoiar este processo e garantir que os estudos baseados no protocolo sejam confiáveis e que a ferramenta seja usada para promover mais sustentabilidade - e não para o chamado "greenwash" ou "banho de sustentabilidade”.

O Protocolo de Sustentabilidade da IHA considera quatro componentes: o planejamento, preparação, implementação e operação dos empreendimentos hidrelétricos. A ferramenta recebeu oficialmente o aval dos membros do órgão na última quinta-feira (16/6), durante o congresso da entidade, em Foz do Iguaçu (PR).

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Venda de ativos da Bertin e interesse por eólicas aceleram consolidação do setor elétrico

Semana foi fechada por aquisições; MPX, EDP e Copel anunciam transações, enquanto Light admite negociação com a Renova Energia
Por Luciano Costa





O setor elétrico viveu dias movimentados nesta semana, quando três empresas anunciaram aquisições e uma quarta admitiu negociações em andamento para um possível negócio. No início do mês, a Cemig já havia iniciado uma movimentação, ao anunciar a compra, por sua controlada Taesa, de ativos da transmissora de energia espanhola Abengoa por um custo de R$1 bilhão.

Na quarta-feira (14/5), a EDP Energias do Brasil, subsidiária brasileira do grupo português, surpreendeu o mercado com a aquisição de 90% da hidrelétrica de Santo Antônio do Jari (300MW). A planta, que tem licença de instalação do Ibama para expansão até 373MW, receberá investimentos entre R$1,27 bilhão e R$1,4 bilhão. A parcela que ficará nas mãos da EDP pertencia à ECE Participações, enquanto os restantes 10% pertencem ao consórcio Amapá Energia. A EDP ainda terá a opção de obter essa participação até 15 de julho.

"Avaliamos que essa certamente deve ser a trajetória da EDP, de buscar fazer investimentos somente em geração, já que em distribuição ela não é uma consolidadora - tem apenas duas distribuidoras e em uma distância grande uma da outra, não tem economia de escala", analisa o professor Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Gesel-UFRJ).

Na quinta-feira (15/5), a MPX, braço de energia da holding EBX, do empresário Eike Batista, fechou a compra da concessão de duas termelétricas do Grupo Bertin. As usinas, localizadas no Espírito Santo, somam 630MW de potência e precisam iniciar a geração até janeiro de 2013, pois venderam energia em um leilão A-5 realizado em 2008. A companhia também revelou que pretende obter autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para construir as usinas no Maranhão, onde possui campos de gás em parceria com sua coligada OGX. A empresa ainda tem licença ambiental para instalar mais de 1.800MW em térmicas na região.

Para analista da Ativa Corretora, Ricardo Corrêa, os campos da OGX no Maranhão têm reservas de gás que, por sua localização, "não são facilmente monetizáveis", a não ser com a implantação de termelétricas. "À medida que a empresa coloca usinas, vai gerar valor. E essa geração de valor é muito maior do que teria qualquer outra empresa, porque ela (a MPX) tem a fonte primária da térmica". Corrêa afirma que "o mercado recebeu bem" a notícia e acredita que, devido aos problemas enfrentados pela Bertin com suas usinas, a Aneel deve aprovar rapidamente a operação.

Ainda na quinta, a estatal paranaense Copel comunicou ao mercado a aquisição de 49,9% em quatro parques eólicos da Galvão Energia. As usinas, que somam 94MW, venderam energia no leilão de fontes alternativas do ano passado e serão construídos no Rio Grande do Norte. Na visão de Ricardo Corrêa, da Ativa, a transação é pequena, e não tem tanta relevância para a avaliação da Copel. "Isso está mais posicionado à estratégia da empresa, para conhecer a indústria (eólica), conhecer o negócio", explica.

Mesmo sem conhecer os termos da negociação, não divulgados pela companhia, Corrêa arrisca dizer que "a energia eólica não tem se provado como meio de geração de valor muito relevante, a não ser apra fabricantes de equipamentos e agentes que trabalham em outras partes da cadeia produtiva". Segundo o analista, "os preço praticados nos leilões não remuneram o capex (investimento necessário)" dos projetos.

Nesse sentido, Corrêa também tem posicionamento crítico quanto à atitude da Light, que, também na quinta, admitiu ao mercado que negocia um investimento na Renova Energia - empresa com foco em fontes limpas e, mais recentemente, em eólicas. "Essa notícia é especialimente negativa para a Light", pontua. O analista da Ativa vê o movimento como um uso da distribuidora fluminense pela Cemig, sua controladora.

"A Light vinha defendendo que a Cemig não iria praticar ingerência em seus planos e está demonstrado agora, para quem tinha alguma dúvida, que isso não é necessariamente verdade", alfineta Corrêa. Nivalde de Castro, do Gesel-UFRJ, também enxerga a possível transação como um passo guiado pela empresa mineira. O especialista, no entando, aponta os aportes de grandes distribuidoras em fontes renováveis como "uma tendência". "A CPFL, a Light agora, a Copel, a própria Cemig, fizeram esse movimento. A energia eólica vai entrar muito firme na matriz elétrica", prevê Castro.

Cenário
O professor da UFRJ afirma que os diversos negócios fechados nesta semana fazem parte do processo de consolidação do setor elétrico brasileiro. "È um movimento mais geral: os grandes grupos, consolidadores, estão se movendo". Castro também não descarta novas vendas de ativos pelo Grupo Bertin, que tem enfrentado problemas com usinas atrasadas e inadimplência no mercado de curto prazo de energia elétrica. "Ele não tem mais capacidade de se manter no mercado. O problema é saber se vai ter gente para comprar".

Para Castro, a tendência de consolidação deve ainda se acelerar com o terceiro ciclo de revisão tarifária, atualmente em estudos na Aneel. O ciclo vai, de acordo com o especialista, reduzir a capacidade de geração de caixa, o que tornará grupos menos equilibrados presas mais fáceis no processo. "Quem tem uma situação econômico-financeira estável consegue financiamento, enquanto os menos estruturados tendem a ser absorvidos".

Marco Antonio Fujihara, diretor da consultoria KeyAssociados, crê que de fato existe "um momento de consolidação" no País. "O que acontece de fato é qeu a escala, em qualquer negócio de energia, é muito importante. É uma tendência que vejo com bons olhos, tende a melhorar o processo", analisa o executivo.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Setor de etanol lança campanha pela bioeletricidade

Entidades e empresas de cana-de-açúcar querem impulsionar uso de biomassa para a geração de energia no País
Da redação

 
Crédito: Projeto Agora

Um grupo de oito empresas e onze entidades ligadas à cadeia produtiva da cana-de-açúcar lançou ontem segunda-feira (6/6), durante o EthanolSummit, evento que acontece em São Paulo até terça, uma campanha para divulgar e impulsionar a bioeletricidade - geração de energia com biomassa. Segundo os organizadores, a iniciativa é "um dos maiores esforços de comunicação e marketing integrados do agronegócio brasileiro".


A campanha será tocada pelo Projeto Agora, que reúne os empresários do setor, e contará com uma agência de gestão de imagem, ações de esclarecimento e divulgação e o desenvolvimento de um site. “Temos uma solução eficiente e disponível para que o Brasil não enfrente dificuldades de abastecimento de energia elétrica ou o perigo de um novo ‘apagão’ no futuro, portanto é fundamental que essa informação chegue ao grande público e aos diferentes níveis de governo, para que todos entendam a importância de remarmos juntos, na mesma direção, para realizar todo o potencial da bioeletricidade,” afirma Marcos Jank, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

Segundo a entidade, das 432 usinas de processamento de cana em atividade no Brasil, 129 exportam seu excedente de bioeletricidade, 70 delas no Estado de São Paulo". Isso já representa mais de 2% da eletricidade utilizada pelo País, atendendo ao consumo anual médio de 20 milhões de brasileiros. É também o equivalente a 20% da energia que virá de Belo Monte", argumenta a Unica.

A campanha vai destacar aspectos da energia gerada através da biomassa – limpa, renovável e disponível –por meio da frase: "Verde e Inteligente".“A bioeletricidade é reconhecida por entidades e ONGs de peso global, como a Greenpeace e a WWF, que acreditam nela como solução inteligente e complementar. Isso tem que ser amplamente disseminado, pois só assim, com uma compreensão mais ampla da importância dessa fonte energética, o assunto vai progredir,” diz Flavio Azevedo, sócio-diretor da agência Prole, contratada para a iniciativa.