O secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Carlos Nobre, participou, nesta segunda-feira (25), da 7ª Conferência da Rede Global de Academias de Ciência (IAP, sigla em inglês para Inter Academy Panel).
Durante o debate, que teve como foco mudança climática, ele defendeu uma maior utilização das energias renováveis.
“Nós não estamos conseguindo reduzir as emissões dos gases de efeito estufa. Isso porque a maior parte das emissões é decorrente da queima de combustíveis fósseis, utilizados para a produção de energia”, disse Nobre no evento, no Rio de Janeiro.
“Então, precisamos aumentar o uso de fontes renováveis no mundo. Se conseguirmos isso, em 2050 teremos 80% das necessidades de energia sustentável sendo supridas. Atualmente, esse cenário é de apenas 13%.”
Como o representante do MCTI lembrou durante o encontro, essa iniciativa já se fazia presente na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que tinha como um de seus objetivos principais impedir que as interferências humanas causassem algum dano ao sistema climático.
A chamada Convenção do Clima foi elaborada durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (RIO-92).
“Vinte anos depois, as emissões globais não reduziram e a velocidade com que as energias renováveis são incorporadas é muito pequena”, observou. “Nesse ritmo, teremos ainda mais grandes impactos.
Então, nosso maior desafio hoje é enxergar, em curto prazo, uma forma de montar um cenário em que a maioria das necessidades sejam atendidas por fontes renováveis. Só assim controlaremos o aumento da temperatura.”
A única boa notícia, segundo Carlos Nobre, é em relação às emissões provenientes dos desmatamentos tropicais. “Essas emissões reduziram muito, principalmente no Brasil, e já deixaram de ser um termo significativo nas emissões globais.”
Com o tema “Ciência para a erradicação da pobreza e o desenvolvimento sustentável”, o evento no Rio reúne presidentes das academias de Ciências de todos os continentes, bem como outros atores relevantes no âmbito científico internacional.
A programação inclui debates sobre mudanças climáticas, energia sustentável, acesso à agua limpa e saneamento básico, saúde e segurança alimentar e o ensino de ciência. Ontem, na abertura, o ministro Marco Antonio Raupp propôs a criação da Comissão Mundial de Cientistas para o Combate à Pobreza.
IPCC e negociações na ONU – Na parte da manhã, o secretário Carlos Nobre participou de um debate com cerca de 20 jornalistas sobre mudanças climáticas e desastres ambientais.
Durante o encontro, ele respondeu a perguntas sobre as negociações na Organização das Nações Unidas (ONU) a respeito do tema clima e sobre os resultados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
“A convenção da ONU sobre o clima não está avançando muito”, avaliou. “Aliás, se nós olharmos também os outros debates que objetivam assegurar uma qualidade ambiental, eles também não estão progredindo.
Porém, na minha opinião, o clima é ainda mais preocupante, pois, ao contrário, por exemplo, da poluição, é mais complicado de reverter. Precisamos buscar soluções para reduzir a emissão de gases e controlar o aumento das temperaturas”, frisou.
No sentido de buscar soluções, a criação do IPCC, segundo o titular de Pesquisa e Desenvolvimento, foi um fator fundamental para orientar os países sobre a velocidade com que as ações precisam ser tomadas e comunicar a preocupação de cientistas climáticos sobre a atual realidade.
A conversa teve também a participação do diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), Luiz Pinguelli Rosa, e foi mediada pela jornalista Ana Lúcia Azevedo, do jornal O Globo.
Fonte: MCTI – Texto: Luiza Seixas