quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Por um maior uso da energia renovável


carlos nobre









O secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Carlos Nobre, participou, nesta segunda-feira (25), da 7ª Conferência da Rede Global de Academias de Ciência (IAP, sigla em inglês para Inter Academy Panel). 

Durante o debate, que teve como foco mudança climática, ele defendeu uma maior utilização das energias renováveis.


“Nós não estamos conseguindo reduzir as emissões dos gases de efeito estufa. Isso porque a maior parte das emissões é decorrente da queima de combustíveis fósseis, utilizados para a produção de energia”, disse Nobre no evento, no Rio de Janeiro. 



“Então, precisamos aumentar o uso de fontes renováveis no mundo. Se conseguirmos isso, em 2050 teremos 80% das necessidades de energia sustentável sendo supridas. Atualmente, esse cenário é de apenas 13%.”


Como o representante do MCTI lembrou durante o encontro, essa iniciativa já se fazia presente na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que tinha como um de seus objetivos principais impedir que as interferências humanas causassem algum dano ao sistema climático. 

A chamada Convenção do Clima foi elaborada durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (RIO-92).

“Vinte anos depois, as emissões globais não reduziram e a velocidade com que as energias renováveis são incorporadas é muito pequena”, observou. “Nesse ritmo, teremos ainda mais grandes impactos. 

Então, nosso maior desafio hoje é enxergar, em curto prazo, uma forma de montar um cenário em que a maioria das necessidades sejam atendidas por fontes renováveis. Só assim controlaremos o aumento da temperatura.”

A única boa notícia, segundo Carlos Nobre, é em relação às emissões provenientes dos desmatamentos tropicais. “Essas emissões reduziram muito, principalmente no Brasil, e já deixaram de ser um termo significativo nas emissões globais.”

Com o tema “Ciência para a erradicação da pobreza e o desenvolvimento sustentável”, o evento no Rio reúne presidentes das academias de Ciências de todos os continentes, bem como outros atores relevantes no âmbito científico internacional. 

A programação inclui debates sobre mudanças climáticas, energia sustentável, acesso à agua limpa e saneamento básico, saúde e segurança alimentar e o ensino de ciência. Ontem, na abertura, o ministro Marco Antonio Raupp propôs a criação da Comissão Mundial de Cientistas para o Combate à Pobreza.

IPCC e negociações na ONU – Na parte da manhã, o secretário Carlos Nobre participou de um debate com cerca de 20 jornalistas sobre mudanças climáticas e desastres ambientais. 

Durante o encontro, ele respondeu a perguntas sobre as negociações na Organização das Nações Unidas (ONU) a respeito do tema clima e sobre os resultados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

“A convenção da ONU sobre o clima não está avançando muito”, avaliou. “Aliás, se nós olharmos também os outros debates que objetivam assegurar uma qualidade ambiental, eles também não estão progredindo. 

Porém, na minha opinião, o clima é ainda mais preocupante, pois, ao contrário, por exemplo, da poluição, é mais complicado de reverter. Precisamos buscar soluções para reduzir a emissão de gases e controlar o aumento das temperaturas”, frisou.

No sentido de buscar soluções, a criação do IPCC, segundo o titular de Pesquisa e Desenvolvimento, foi um fator fundamental para orientar os países sobre a velocidade com que as ações precisam ser tomadas e comunicar a preocupação de cientistas climáticos sobre a atual realidade.

A conversa teve também a participação do diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), Luiz Pinguelli Rosa, e foi mediada pela jornalista Ana Lúcia Azevedo, do jornal O Globo.

Fonte: MCTI – Texto: Luiza Seixas

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Strike do governo no setor de energia brasileiro

O governo federal promoveu nos últimos dez anos um verdadeiro strike no setor de energia no Brasil. Para aqueles que não costumam jogar boliche o strike e aquela jogada na qual com um único arremesso você derruba todas as peças. 



E o governo com uma única política baseada no populismo dos preços e na utilização política do setor conseguiu derrubar a segurança jurídica e a estabilidade regulatória do setor e consequentemente deixar o país vivendo o cenário do desabastecimento. 

O primeiro a ser derrubado e hoje o mais visível para todos foi o do petróleo, tendo como a principal vítima a Petrobras. 

A derrubada teve inicio quando foi anunciada a descoberta do pré-sal, fato que levou ao fechamento do mercado de petróleo no país. 

De lá para cá não ocorreram mais leilões, o governo aprovou um novo marco regulatório intervencionista, os investimentos privados tomaram a direção de outros países, deixaram de ser gerados aqui uma enorme quantidade de empregos e a produção de petróleo estagnou, e a velocidade do pré-sal tem sido a de um carro mil. 

Nos combustíveis a derrubada também foi geral. O governo congelou os preços da gasolina e do diesel, estimulou o consumo e com isso o Brasil passou a importar cada vez mais todos os derivados de petróleo. 

O pior é que com esse aumento do consumo e das importações os prejuízos da Petrobras têm crescido de forma espetacular, da mesma forma que a dívida da empresa. 

Nunca na história deste país a Petrobras esteve numa situação tão ruim. Não satisfeito em derrubar a peça Petrobras, o governo também fez o mesmo com o etanol e o biodiesel. 

Com os preços congelados da gasolina, o etanol perdeu competitividade, a produção cresceu pouco e o país passou a importar o produto dos Estados Unidos. E, o que é pior, passamos a exportar etanol de cana, ambientalmente melhor, e a importar o de milho. 

Ou seja, passamos a limpar o ar que os americanos respiram. No caso do biodiesel, o setor está sem marco regulatório, sem previsibilidade de aumento da mistura no diesel e com isso as empresas, a cada dia que passa, encontram mais dificuldades para sobreviver. 

No setor elétrico, o governo também promoveu a derrubada total. 

Ao só se preocupar com a modicidade tarifaria e ao abandonar a segurança de abastecimento, bem como a preocupação com o uso eficiente da energia, o governo quebrou o caixa da Eletrobras, gerou insegurança jurídica e regulatória e incentivou o consumo de energia elétrica num contexto de escassez. 

Não entendeu que o aumento da oferta de forma estruturada só ocorre num contexto de concorrência e que não e através de decretos presidenciais que se abaixa os preços. 

Na realidade, o governo sempre confunde ou quer nos confundir entre o conceito de preços baratos e preços competitivos. 

A energia, tanto no Brasil como no mundo, tende a ser cada vez mais cara, portanto, o que precisamos e estabelecer uma política tributária que ajude a energia a ser competitiva. 

Ao vender a ideia de energia barata o governo engana o consumidor e penaliza o contribuinte e o pior, no médio prazo promove o desabastecimento. 

Adriano Pires - Diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE) Brasil

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O mercado da energia eólica no mundo

Enquanto China e Estados Unidos competem pela liderança global, na América Latina, o Brasil lidera com 2,5 Gigawatts (GW) de capacidade total instalada



Apuração: Vanessa Barbosa
Design: Juliana Pimenta
Fonte: GWEC, Aneel e ABEEólica

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A crise de energia e as soluções

As causas da crise de eletricidade que enfrentamos têm sido ampla­mente discutidas na imprensa e pa­recem ser bem compreendidas: a expansão do sistema de hidre­létricas - a principal fonte de energia elétrica no Brasil - tem sido feita nas últimas décadas em usinas a fio d"água. 

Isto é, sem reservatórios de água que mantenham as usinas em fun­cionamento mesmo quando não chove durante longos perío­dos de tempo. 


Isso não é culpa do atual go­verno federal, mas da incapaci­dade geral dos governos, desde 1990, de se engajarem num diá­logo maturo com os ambienta­listas e os movimentos sociais contrários à construção de bar­ragens para aformação de reser­vatórios. A oposição ao governo Fernando Henrique Cardoso es­timulou esses movimentos e pa­ga agora o preço elevado que de­les resultou. 

Várias organizações ambien­talistas, como a WWF-Brasil, tentaram iniciar esse diálogo, mas suas propostas foram rece­bidas com indiferença pelo go­verno, apesar de serem eminen­temente razoáveis: escolher na Amazônia as bacias hidrográfi­cas nas quais barragens e hidre­létricas poderiam ser construí­das e preservar outras bacias em seu estado natural. 

Atualmente os reservatórios das hidrelétricas estão pratica­mente no mesmo nível de 2001 e certamente teríamos um racio­namento se não tivessem sido instaladas usinas termoelétricas, que usam gás, óleo combus­tível e até carvão. Sua constru­ção foi iniciada no fim do gover­no Fernando Henrique e o go­verno Lula/Dilma Rousseff deu-lhes andamento. Mas energia ge­rada por elas é muito mais cara do que a das hidrelétricas. 

Mesmo assim, o risco de ra­cionamento não foi afastado, porque todas as termoelétricas disponíveis já foram acionadas e se a seca continuar faltará energia. A razão para tal é sim­ples: as alternativas de geração de eletricidade disponíveis - que são as usinas eólicas (movi­das pela força do vento) e as termoelétricas queimando bagaço - não foram estimuladas pelo governo, no fundo, por motivos ideológicos. 

A partir de 2002 o governo de­cidiu expandir o parque gera­dor de eletricidade por meio de leilões que a Empresa de Plane­jamento Energético (EPE) reali­za regularmente. Recebem as concessões as empresas que apresentam preços mais baixos para a energia produzida, seja ela hidrelétrica, térmica, eólica ou solar. 

A justificativa para es­se procedimento é a de garantir a "modicidade tarifária", quer dizer, o preço mais baixo da energia produzida, que, em te­se, favoreceria as camadas mais pobres da população. 

Essa é uma visão equivocada: por motivos técnicos, diferen­tes formas de gerar eletricidade têm custos diferentes de produ­ção e, também, fortes compo­nentes regionais. Se a energia eólica for gerada no Estado do Piauí e consumida no Rio de Ja­neiro, é preciso construir as Usinas de transmissão adequa­das. 

Além disso, gerar eletricidade para ricos e para pobres cus­ta o mesmo. 


Se o governo federal deseja fazer programas sociais com ele­tricidade para beneficiar os po­bres, deve fazê-lo na venda, e não na sua geração. 

Foi isso que o governo Franco Montoro fez em São Paulo, em 1982, esten­dendo as redes de eletricidade às favelas e cobrando preços re­duzidos dos habitantes dessas áreas, por meio de subsídios cru­zados, em que os mais ricos pa­gavam tarifas maiores do que os mais pobres. 

Ao nivelar nos leilões da EPE todas as formas de energia, o go­verno federal tornou inviável, na prática, o uso de bagaço de cana para gerar eletricidade em grande escala no Estado de São Paulo. Essa energia pode até ser um pouco mais cara do que a das hidrelétricas, porém está perto dos centros de consumo, o que reduz significativamente os custos de transmissão. 

Apesar dos esforços do gover­no paulista, menos de 20% do potencial do bagaço de cana-de-açúcar - que é comparável à potência da Usina de Itaipu - está sendo utilizado, por causa da falta de interesse do governo federal. O que torna a situação ainda mais paradoxal é que a ideolo­gia da "modicidade tarifária"" le­vou o governo a usar térmicas a gás, cujo custo da eletricidade é cerca de três vezes superior à média nacional

Os problemas que enfrenta­mos na área de energia elétrica não serão resolvidos com medi­das intempestivas como a Medi­da Provisória (MP) 579 e a redu­ção forçada de cerca de 20% nas tarifas, que está tornando o Sis­tema Eletrobrás e outras empre­sas geradoras inviáveis. 

Como foi feita, essa medida tem clara­mente um conteúdo demagógi­co e o Tesouro Nacional - ou seja, toda a população brasileira - vai pagar por ela. Vamos ter agora, além da Bolsa-Família, uma "bolsa-eletricidade", que, aliás, vai beneficiar grandes in­dústrias eletrointensivas. 

As consequências negativas da MP 579 já são evidentes na queda do valor das empresas, que terão, daqui para a frente, mais dificuldades para fazer investimentos, o que, como con­sequência, vai dar origem a mais "interrupções de forneci­mento", na linguagem oficial. 

Soluções para a crise atual existem. 
No curto prazo é preciso re­mover os obstáculos para que a eletricidade do bagaço de cana-de-açúcar possa competir nos leilões da EPE e tomar providên­cias para completar a ligação de centrais eólicas ao sistema de transmissão. 

No longo prazo, é preciso reanalisar o planejamento de no­vas hidrelétricas - incluindo re­servatórios adequados de água - e acelerar medidas de racionalização do uso de eletricidade, que até agora são voluntárias. 

Não basta, por exemplo, etique­tar geladeiras alertando os com­pradores sobre quais são os mo­delos mais eficientes, é necessá­rio proibir a comercialização das geladeiras com alto consu­mo de energia, como fazem mui­tos países. 

Um pouco mais de competên­cia na área energética é do que o País precisa agora. 

José Goldemberg - PROFESSOR EMÉRITO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, FOI MEMBRO DO CONSELHO SUPERIOR DE POLÍTICA ENERGÉTICA (CSPE) DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA (O Estado de S. Paulo)