quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Preço de eólica é alvo de polêmica no setor

O leilão de energia realizado na sexta-feira provocou uma racha no setor eólico. O pivô da polêmica foi a Bioenergy, do empresário Sergio Marques, que vendeu a energia de sete novos parques eólicos no Maranhão por R$ 87,77 por MWh, o mais baixo preço já oferecido no país. 


Os parques possuem potência instalada de 201 MW e representaram 73% da energia eólica comercializada no leilão. 

A agressividade do empresário causou desconforto no setor, após ter recebido elogios do presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Mauricio Tolmasquim. 

"O preço do Sérgio Marques [da Bioenergy] não é o preço da energia eólica no Brasil e não deve servir de referência", afirmou a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Melo. 

A entidade levanta dúvidas sobre as taxas de retorno dos empreendimentos. "É difícil entender como alguém aceita uma remuneração tão baixa". Segundo Elbia, os preços preocupam os fornecedores que se instalaram no país. 

Em entrevista ao Valor, Marques afirmou que as taxas de retorno dos parques eólicos ainda são de dois dígitos - entre 10% e 12% - e que pôde vender a energia a R$ 87 devido à combinação de uma série de fatores. 

Entre eles, Marques cita a queda dos preço do aço, que responde por 60% do custo das turbinas, a facilidade de financiamento, redução das taxas de juros no país e no mundo, além do excesso de equipamentos eólicos nos Estados Unidos e Europa. 

"Outro aspecto favorável é a curva de aprendizagem", disse Marques, que atua no setor eólico há cerca de 10 anos. 

Após fechar os preços no leilão de sexta-feira, a Bioenergy está, neste momento, em negociações com três fornecedores de equipamentos. Um deles é a chinesa Sinovel. 

A empresa não faz parte dos fabricantes credenciados pelos BNDES, mas, em compensação, é financiada pelo banco de fomento da China, que oferece condições agressivas de crédito. Os outros dois fabricantes com os quais a Bioenergy está negociando são a Alstom (França) e a GE (EUA). 

Apesar da polêmica em torno dos preços, tanto a Bioenergy quanto a Abeeólica foram unânimes ao dizer que a demanda no leilão foi bem mais fraca do que a prevista, o que acendeu um sinal de alerta. 

Foram vendidos apenas 574 MW, dos quais 281 MW de eólicas. A quantidade representa 10% dos 2,7 mil MW de energia eólica comercializados nos três leilões realizados em 2011. 

Elbia prevê que a demanda volte a se normalizar. "No ano que vem, teremos leilões de verdade". 

Neste ano, diz ela, as incertezas em torno das alocações da cotas da energia "velha", o desempenho mais fraco do PIB e a indefinição em torno das térmicas do Bertin atrapalharam a aquisição de novos contratos de energia pelas distribuidoras, mas essas questões tendem a ficar mais claras em 2013. 


(Valor Econômico)

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Cerro dos Trindade é o primeiro projeto eólico prioritário


Cerro dos Trindade é o primeiro projeto eólico prioritário

O Ministério de Minas e Energia (MME) aprovou como prioritário, por meio da Portaria 612, o projeto da usina eólica Cerro dos Trindade (8MW), que está sendo implantada no município de Santana do Livramento, Rio Grande do Sul. 

Trata-se do primeiro empreendimento eólico a receber esse status desde a publicação da Portaria Interministerial 868, de 23 de novembro, que determinou que os projetos de fonte eólica, biomassa, nuclear e solar, além da indústria de equipamentos, podem receber ser considerados prioritários para o país e, como tal, captar recursos por meio da emissão de debêntures de infraestrutura.

O empreendimento faz parte do Complexo Livramento, constituído por cinco parques com capacidade instalada total de 78MW. 

O complexo é fruto de uma parceria entre a Eletrosul (49%), o Fundo Rio Bravo Investimentos (41%) e a Fundação Eletrosul de Previdência e Assistência Social - Elos (10%).

Assim, de acordo com o disposto, a empresa Eólica Cerro dos Trindade que é a responsável pelo empreendimento deverá manter atualizada, junto ao MME, a relação das pessoas jurídicas que a integram; destacar, quando da emissão pública das debêntures, o número e a data de publicação da Portaria e o compromisso de alocar os recursos obtidos no projeto prioritário aprovado, bem como manter a documentação relativa à utilização dos recursos captados, até cinco anos após o vencimento das debêntures emitidas, para consulta e fiscalização pelos órgãos de controle.

Cabe à responsável pelo empreendimento, ainda, o encaminhamento ao MME, no prazo de vinte dias a contar da sua emissão, cópia do ato autorizativo da operação comercial da usina Cerro dos Trindade.

Fonte: Jornal da Energia

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Energias renováveis para cidades sustentáveis



Imagem aérea mostra painéis solares instalados no telhado de uma casa na Alemanha. Miguel Villagran/GettyImage

A palavra sustentável foi usada pela primeira vez como estratégia de equilíbrio para o desenvolvimento urbano por Lester Brown, fundador do WWI-Worldwatch Institute, no início da década de oitenta, para conceituar como sociedade sustentável “aquela capaz de satisfazer as necessidades do presente sem comprometer os direitos das futuras gerações”. 

Hoje, a urbanização caótica causa um gigantesco ônus à qualidade de vida e à saúde humana e ao ambiente, contribuindo para a instabilidade social, ecológica e econômica, exigindo soluções sustentáveis nas cidades.

Mundialmente, a maior parte do uso da energia e das emissões de carbono provém de cidades que estão descobrindo modos mais eficientes de gestão, melhorando a qualidade de vida e impactando menos a saúde humana. 

Nos Estados Unidos, cidades aderiram ao Acordo de Proteção ao Clima realizado por governos municipais. 

Em Nova York, prefeito Bloomberg, que está cobrando de pedágio urbano, quer fazer da cidade dele a primeira “cidade sustentável do século 21″, usando a renovação do Empire State Building, um ícone da cidade, para exemplos de eficiência energética, construção verde e produção de eletricidade limpa. 
Em Rizhao, cidade costeira chinesa, 90% de todas as residências de mais de 3 milhões de habitantes, já usam aquecedores
 de água solares, e o governo local instalou painéis solares para alimentar a iluminação de rua e os semáforos.

Tel Aviv, a maior área metropolitana de Israel, toda água do banho e da descarga vai para o maior complexo de tratamento do Oriente Médio, o Shafdan, movido a energia limpa, onde o esgoto é bombeado para dentro da terra e novamente retirado, passando por tratamentos físicos, químicos e biológicos, para ser purificada e recuperada. 

Os relatórios do WWI, usados em todo o mundo como referência para a sustentabilidade, mostram como a eficiência energética e a economia de gases de efeito estufa a partir de tecnologias de construção: isolamento de tubos, vedação de ar, revestimentos reflexivos de telhado, pigmentos e janelas isolantes, estimando que as melhorias na eficiência da construção, com menor teor de emissões, podem levar a uma redução de 41% no uso de energia e uma redução de 70% nas emissões de gases de efeito até 2030.

No Brasil, ações urbanas começam a fazer parte das novas gestões das cidades. 

No Rio, o projeto “Estudantes pela Sustentabilidade”, apoiado pela Siemens, uma corporação transnacional que já descobriu que a sustentabilidade faz parte transversalmente dos seus negócios, que a América Latina é a região mais urbanizada no mundo em desenvolvimento e que atualmente 196 milhões de pessoas vivem em cidades brasileiras – um lucrativo locus para seus negócios sustentáveis – reuniu equipes de estudantes de diferentes países para desenvolver a próxima geração de líderes em sustentabilidade. 

São Paulo lançou a campanha “Assina Prefeito”, do Programa Cidades Sustentáveis, visando intensificar a divulgação nas redes sociais para que mais prefeitos tomem conhecimento e assinem a carta compromisso por cidades justas e sustentáveis.

Em Pernambuco, a Cidade da Copa prepara a implantação de usina de geração solar fotovoltaica conectada à rede elétrica da Companhia Pernambucana de Energia. 

Na Bahia, a arrojada Arena Fonte Nova que voltará a ser o prédio que mais “vibra” no estado, usando o conceito “fonte nova”, perceberá o filão dos econegócios que está entrando para lançar, por exemplo, tecidos termoelétricos capazes de produzir energia a partir do calor liberado pelo corpo humano durante jogos, caminhadas intensas ou pela prática de exercícios físicos e recarregar celulares e outros aparelhos portáteis. Realidades do dia a dia nesta década.

Um ícone esquecido do Brasil, o cartão postal mundialmente famoso e localmente mal tratado Forte de São Marcelo, na Bahia, conhecido historicamente como o umbigo da America Latina por estar na curva inferior da “barriga” do continente, atravessou os séculos incólume como capitão-mor do porto da Baia de Todos os Santos. 

O velho forte sente diariamente a energia maremotriz que passa por ele quatro vezes todos os dias durante os fluxos de enchente e vazante, torcendo para que descubram que tanto a energia solar que o ilumina como a energia das marés, se capturadas, podem abastecer a sua cidade. 

Satisfazendo as necessidades do presente sem comprometer os direitos das futuras gerações o forte aguarda, pacientemente, o despertar dos gestores para os potencial sustentável da cidades.

Eduardo Athayde é diretor do WWI-Worldwatch Institute no Brasil. eduathayde@gmail.com